Sobre o antiqüíssimo tema da lactação virginal ou da Virgo lactans(Lucas 2, 27), veja-se neste catálogo a Virgemde Giampietrino. A obra, de altíssima qualidade, possui escassa documentação pregressa no museu e, embora pertença ao ambiente romano de meados ou da segunda metade do século XVIII, é de difícil atribuição. Uma
primeira tentativa em direção aos sucessores diretos de Maratta, e notadamente de Agostino Masucci (1691-1768), sugerida com cautela por Luciano Migliaccio (comunicação oral), pode-se verificar acertada. Neste caso,
poderia se pensar em um Masucci já dos anos 40, após a inflexão bem descrita por Clark (1981, p. 92) como um abandono de todo
flirtcom o rococó, em prol de uma “forte reforma classicista”. A obra A Virgem Amamentando o Menino possui entretanto uma pincelada mais léchée, uma elegância mais fria de desenho e de modelado, além de uma tonalidade precisa de azul que a aproximam enormemente de Batoni e, na realidade, de seu mais maduro período (de resto também a opinião de Migliaccio,
comunicação oral). Ausentes estão aqui a vibração luminosa remanescente do rococó e a dramaticidade do claro-escuro nas carnações, enquanto se afirmam uma maior disciplina do sistema de pregas no véu da Virgem e na
postura do Menino, e uma suavidade láctea, quase de biscuit, na distribuição das sombras no rosto da Virgem. Com efeito, pode-se aproximá-la de quatro obras tardias de Batoni:
A Virgem com o Menino e Santos em S. Maria della Chiara, em Chiari, de 1780 (Clark 1985, cat. 426); a Núpcias Místicas de Santa Catarina, do Palazzo del Quirinale de 1779 (Clark 1985, cat. 421); a Sagrada Família do Hermitage, de 1777 (Clark 1985, cat. 398), e finalmente a quarta e mais convincente comparação, a Alegoria da Morte de Dois Filhos de Ferdinando IV, do Palazzo Reale de Caserta, de 1780 (Clark 1985, cat. 427), em que a figura que representa a alegoria das Duas Sicílias é particularmente similar à da
Virgemdo Masp. Que a obra, de uma execução prodigiosamente controlada, seja efetivamente de Batoni ou de um pintor romano de seu círculo mais próximo, é questão que deve permanecer aberta. Em todo caso parece muito
provável que a obra deva ser datada dos mesmos anos das telas de Batoni aqui mencionadas e pelo menos de não antes de 1760.