MASP

Desconhecida (Artista norte-americana)

Colcha (quilt) “cerca de trilho”, Circa de 1890

  • Autor:
    Desconhecida (Artista norte-americana)
  • Dados biográficos:
  • Título:
    Colcha (quilt) “cerca de trilho”
  • Data da obra:
    Circa de 1890
  • Técnica:
    Seda e algodão
  • Dimensões:
    211,5 x 206 cm
  • Aquisição:
    Compra no contexto da exposição Histórias das mulheres, histórias feministas, 2019-20
  • Designação:
    Tecido
  • Número de inventário:
    MASP.10874
  • Créditos da fotografia:
    MASP

TEXTOS



Quilts são mantas acolchoadas feitas da junção de vários tecidos, técnica conhecida na Europa desde pelo menos 1600. Foi a partir do século 18 que esse tipo de produção ganhou força nos Estados Unidos, a ponto de hoje ser associada principalmente a esse país. Em 1776, as colônias americanas declararam sua independência, o que resultou na proibição do comércio com o Reino Unido e estimulou a produção local de tecidos. Logo na sequência, essa produção têxtil ganhou escala industrial, com as mulheres constituindo‑se como a principal força de trabalho. No Norte do país, as mulheres empregadas na indústria têxtil (brancas ou negras, normalmente jovens e solteiras) poderiam ter uma vida mais independente do ponto de vista econômico e acesso a uma variedade de bens de consumo para si e para suas famílias, incluindo tecidos para roupas, cortinas, toalhas e quilts. Em busca de uma posição social mais estável, muitas fizeram parte de organizações de caridade. Essas associações permitiam que ampliassem sua atuação na comunidade e asseguravam a formação de redes de solidariedade e pertencimento, para além do espaço doméstico que lhes era reservado até então. A venda das quilts em feiras beneficentes acabou, também, se revelando uma estratégia importante para angariar fundos para diversos projetos sociais e políticos, como a abolição da escravidão, o sufrágio feminino e a luta pelos direitos dos trabalhadores. Durante a Guerra Civil norte‑americana (1861‑1865), estima‑se que tenham existido entre 7 e 20 mil associações de mulheres, chamadas genericamente de “Ladies’ Aid Society” [Sociedade assistencial de mocas], que apoiaram ambos os lados do conflito. Dessa maneira, os quilts não apenas desmentem a função meramente “decorativa”, em geral atribuída a eles, como também apresentam um verdadeiro vocabulário geométrico, muito anterior ao dos artistas (homens) modernos que se consagrariam como pioneiros da arte abstrata.

— Mariana Leme, mestranda em teoria e história da arte, ECA-USP, e integrante da equipe de curadoria, MASP, 2019

Fonte: Adriano Pedrosa, Isabella Rjeille e Mariana Leme (orgs.), Histórias das mulheres, Histórias feministas, São Paulo: MASP, 2019.




Por Julia Bryan-Wilson
Eu sou do Texas, no sul dos Estados Unidos. Durante muitas gerações, todas as mulheres na minha família fizeram quilts—uma colcha de retalhos tipicamente americana como esta, que foi mostrada na exposição Histórias das Mulheres: artistas até 1900, que eu co-curei com Mariana Leme e Lilia Moritz Schwarcz, em 2019, no MASP. Poderíamos dizer que esse tecido tem "fabricação anônima"; no entanto, provavelmente é melhor dizer que foi feito por uma mulher cujo nome já foi conhecido no passado, mas cuja autoria foi perdida na história. O quilt foi exposto na mostra próximo de uma pintura da impressionista estadunidense Mary Cassatt (1843-1926), que também usou pequenos elementos discretos - pinceladas entrelaçadas como pedaços de tecido - para criar um efeito óptico. Uma tradição entre as famílias brancas e negras no sul dos Estados Unidos é que as mulheres criam quilts especiais como presentes para ocasiões importantes, como casamentos. Você pode ver pelo tecidos caros usado aqui nesse trabalho que esse teria sido um quilt muito especial e possivelmente nunca foi colocado em uma cama para esquentar, mas poderia ter sido pendurado na parede como uma tapeçaria. Minha avó me costurou um quilt bem parecido com esse quando eu nasci; eu deveria recebê-lo quando me casei. Mas porque sou queer/gay, isso nunca aconteceu; em vez disso, meu pai me deu o quilt quando completei meu doutorado em história da arte.

— Julia Bryan-Wilson, curadora adjunta de arte moderna e contemporânea, MASP, 2020

Fonte: Instagram @masp 31.03.2020



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