Por Luciano Migliaccio
Por meio de uma carta de Lhote a P. M. Bardi. sabemos que a Composição – Três Nus Femininosé de 1920 e que o artista realizou numerosas variações sobre ela, mudando a combinação das cores. O Musée National d’Art Moderne de Paris possui uma grande pintura de aproximadamente cinco metros de largura, datada
de 1925, que representa a obra final, realizada a partir desta série de esboços. A tela parisiense apresenta seis figuras femininas nuas.
A obra do Masp é inspirada nas
Banhistasde Cézanne, mais que nas Demoiselles d’Avignon de Picasso, de 1907, tela fundadora de um cubismo imbuído de primitivismo e de arte africana, já ultrapassado em 1920. Ao terminar a fase pioneira da vanguarda, Lhote volta-se para a pesquisa silenciosa de Cézanne,
considerado o renovador de uma tradição nacional francesa, originária de Poussin. Esse retorno a Cézanne assume dimensões monumentais na tela de 1925. A referência à tradição clássica nota-se na postura dos nus
posicionados em ambos os lados da composição, claramente inspirados nos afrescos de Michelangelo da capela Sistina. Como Cézanne, Lhote experimenta as possibilidades da construção do espaço a partir do dado
sensorial, levando ao mesmo tempo em conta a fusão entre plano, espaço e figura, proposta pelo cubismo de Picasso e de Braque. “Tudo deve ser colocado no mesmo plano no espírito do artista”, recomendava Matisse, de
quem Lhote aproxima-se igualmente nessa composição, assim como de algumas variações pós-cubistas de Severini, que então buscava a renovação da tradição monumental da pintura italiana.