Um momento de intimidade numa cena de interior na pintura de Henri de Toulouse-Lautrec (1864-1901). Mulher se penteando – Duas mulheres em camisolarepresenta uma cena delicada e ambígua. O título duplo indica uma dupla leitura: talvez a mulher que se penteia o faz calmamente diante do espelho que reflete sua imagem, ou possivelmente sejam de fato duas a
desfrutar um momento de intimidade em camisola. A cena mostra a cumplicidade do pintor com as mulheres e suas vidas privadas. A prostituição era aceita na época, mas não era vista com bons olhos pela sociedade, e os
críticos que viram as várias pinturas de Lautrec sobre o tema manifestavam sua reprovação, ainda que alguns tenham feitos comentários elogiosos sobre seus aspectos técnicos ou formais, ressaltando o
maravilhoso desenho ou o belo colorido. Em 1893, um crítico escreveu que "É pouco provável que se recomende os temas [da pintura de Lautrec] às senhoras, mas sua execução é inegavelmente hábil". Na obra, a ambiguidade e a delicadeza da cena
ganham força com as pinceladas leves e ligeiras, através das quais é possível vislumbrar o fundo em cartão, numa composição marcada pela diagonal que, embora incompleta, parece querer cruzar o quadro a partir do
canto inferior direito. O MASP possui onze obras de Lautrec em seu acervo, e em 2017 organizou uma mostra dedicada ao artista: T
oulouse Lautrec em vermelho.
A dedicatória a François-Rupert Carabin (1862-1932) documenta as relações pessoais de Lautrec, por volta de 1891, com este escultor, ceramista, ourives e ebanista alsaciano que participou da fundação, em 1884, da
Société des Artistes Indépendants e que, mais tarde, tornar-se-ia diretor da École des Arts Décoratifs de Estrasburgo.
O tema é análogo ao de um outro cartão, conservado em Tolouse, Musée des Augustins, ao qual melhor se aplicaria o título proposto por Dortu,
Mulher se Penteando, como já evidenciado por Camesasca (1988, p. 214). Com suas duas personagens, o cartão do Masp é de uma composição muito mais complexa, não apenas porque o espaço cinde-se em profundidade, em um jogo especular entre
campo e contracampo, mas sobretudo porque as duas personagens contrastam em verticais, numa composição com duas horizontais que dividem o fundo em três estratos idênticos. E se o controle do espaço é de um rigor
clássico, o ponto focal da composição é uma não-forma, a mancha de cabelo ruivo na parte central superior da composição.