Filho da pintora Suzanne Valadon, Utrillo é um dos artistas representativos da transição do século 19 ao 20 na França. Em um primeiro momento, quando começou a pintar sobre orientação de sua mãe, o seu trabalho se
insere na continuidade do pós-impressionismo, retratando ao ar livre ou a partir de cartões-postais a luz e a ambiência características das paisagens urbanas de Paris e de sua periferia. O período branco é o que
consagrou a sua obra (1909 a 1914), pelo uso sutil de pigmentos predominantemente branco e cinza, aos quais associava areia, cal e gesso para simular a materialidade e textura das paredes das fachadas das casas que
retratava. A partir desse momento, depurou sua pintura de detalhes e simplificou as formas, o que parece realçar ainda mais o seu caráter gráfico. Uma das características mais marcantes de suas composições é a
presença de eixos como as ruas ou esquinas, que, na construção espacial, materializam as linhas de perspectiva e convergem geralmente para um ponto único. É o caso de
Sacré-Coeur de Montmartre e Château des Brovillards, na qual o espectador se encontra no que parece ser uma praça ou um jardim delimitados por uma cerca, atrás da qual silhuetas transitam por uma rua que desenha uma perspectiva de ponto único, materializado nas
torres da Sacré-Coeur de Montmarte. Pietro Maria Bardi (1900-1999) disse que o pintor Agostinho Batista de Freitas (1927-1997) era o Utrillo de São Paulo; por conseguinte, hoje podemos dizer que Utrillo é Agostinho
Batista de Freitas de Paris.
Por Luciano Migliaccio
Desde os 19 anos de idade, Utrillo dedicou-se à pintura dos subúrbios de Paris, como de Sarcelles e de Butte-Pinson. Tornou-se um apaixonado dos recantos menos conhecidos da cidade, em particular do bairro de
Montmartre, escolhendo sempre como tema a própria rua. Pintou os muros e os casebres corroídos pelo tempo, transformando cada detalhe na expressão de uma profunda experiência da condição urbana contemporânea. O
quadro do Masp,
Sacré-Coeur de Montmartre e Château des Brouillards, apresenta uma visão hibernal do pitoresco bairro parisiense, dominado pela cúpula da Igreja do Sacré-Coeur. Cinco figurinhas típicas do pintor acrescentam um toque de graça humilde à paisagem urbana. Esta tela
pertence ao chamado período branco de Utrillo, no qual o artista conseguiu variações suaves e penetrantes do mesmo tom, chamando atenção para a tendência de frisar a linearidade da composição.