Heitor dos Prazeres viveu no período bastante conturbado após a abolição da escravidão, quando a situação dos desabrigados no Rio de Janeiro piorou com a chegada de migrantes ex-escravizados. Sem assistência do
Estado, negros e negras foram às grandes cidades em busca de trabalho; não conseguindo moradia ou sustento, ocuparam precariamente os espaços vazios – caso das primeiras favelas cariocas surgidas nos morros. Prazeres
retratou cenários da cidade onde esta população negra se concentrou, a região de “pequena África”. Pintava o cotidiano das famílias, as rodas de samba, a vida boêmia nas ruas da Lapa e do centro (na região do
Valongo) e as festas populares. Nesta obra o artista representa trabalhadores negros e brancos voltando da roça com a colheita do dia. Há crianças e adultos, homens e mulheres, e a maneira compactada como o grupo
aparece, com os corpos quase se fundindo, sugere a existência de um senso de comunidade e intimidade entre eles. Ao fundo vemos construções simples que nos lembram casinhas de barro e sapé, típicas deste cotidiano
humilde do começo do século passado.