A partir da década de 1890, Pierre-Auguste Renoir (1841-1919) começou a desenvolver artrite-reumatóide, o que impactou sua forma de trabalhar. Mesmo com as mãos debilitadas, produziu uma enorme quantidade de pinturas
até a sua morte. São também desse período quase todas as suas esculturas, produzidas, a partir de 1913, com o auxílio do jovem artista Richard Guino (1890-1973), que havia trabalhado com Aristide Malliol (1861-1944),
escultor próximo ao pintor. Renoir rascunhava esboços e Guino os traduzia em modelagem, ajustando conforme o artista apontava os pontos a serem modificados. Durante os 5 anos de parceria, foram criadas 14 esculturas.
Tal como
Vênus Vitoriosa, grande parte desse conjunto partiu da pintura O julgamento de Páris, feita por Renoir alguns anos antes. Referem-se ao episódio da mitologia grega conhecido como “pomo da discórdia”, a disputa entre Juno (Hera), Minerva (Atenas) e Vênus (Afrodite) pela maçã de ouro que deveria ser
destinada à mais bela. Páris, um jovem mortal convocado para resolver o impasse, foi conquistado por Vênus, que lhe ofereceu em troca o amor verdadeiro, prometendo-lhe Helena (que posteriormente ficaria conhecida
como Helena de Tróia. A
Vênus Vitoriosa segura em sua mão direita a maçã recebida como reconhecimento de sua beleza. O rosto da deusa assemelha-se a Gabrielle Renard (1878-1959), prima da esposa do artista que cuidava dos filhos do casal e a principal
modelo nas últimas décadas de sua obra. Entre as peças desse período, lavadeiras e figuras femininas lembram às banhistas de suas pinturas. O MASP também possui 12 pinturas de Renoir, cobrindo toda sua carreira.
Por Luciano Migliaccio
A obra Vênus Vitoriosa procede da Petite Venus(altura, 60 cm), primeira escultura de Richard Guino, realizada em 1913 sob a supervisão de Renoir, impedido de trabalhar por causa da artrite, e tem como modelo a Vênus do
Julgamento de Páris, criada naquele mesmo ano. A versão em bronze do Masp foi fundida por volta de 1915-1916 pela Fundição Rudier, que fez três exemplares. O exemplar do Masp tem o número 2. O número 1 encontra-se no Petit Palais de
Paris, e o número 3 no Museum Boymans-Van Beuningen de Roterdã. Outras fusões existentes em outros museus e coleções particulares seriam
surmoulagesrealizados a partir destas (Camesasca 1979, p. 88). Para P. Haesaerts (1947, p. 18), essa é a mais acabada e a mais complexa das esculturas idealizadas por Renoir.