Este curso propõe um diálogo entre o mundo da arte e a antropologia a partir do renovado interesse pelo universo indígena. Novos no cenário artístico brasileiro, artistas e curadores indígenas se fazem cada vez mais presentes no comum esforço de repensar as fronteiras, os cânones e as narrativas dos mundos da arte.
As reflexões críticas de pensadores indígenas com relação a separação entre arte e vida e entre arte e artefato reforçam e ajudam a redefinir discussões clássicas no campo da antropologia e da etnologia da arte. O objetivo do curso é a proposição de um diálogo entre essas diferentes vozes, procurando entender o que o mundo da arte procura e tem a ganhar com uma aproximação simétrica e dialógica com o mundo indígena. O interesse do mundo da arte pelos universos indígenas e suas ontologias relacionais está ligado, também, a uma crescente tomada de consciência da crise climática provocada pelo antropoceno e da necessidade de reformular a relação com a chamada terra-floresta, Gaia ou Natureza. As cosmologias indígenas constituem verdadeiras ecosofias, filosofias e estéticas relacionais especializadas na negociação cosmopolítica com outras espécies vivas e podem nos mostrar caminhos de fuga dos impasses causados pela adoção de uma ontologia dualista que opõe homem e natureza.
Aula 1 – 23.7.2020
Arte e armadilhas
A questão da agência de imagens, artefatos e obras de arte a partir da proposta do antropólogo inglês Alfred Gell de explorar a proximidade entre pessoas e artefatos na capacidade destes últimos de cativar, capturar e agir dentro de complexas redes de intencionalidades humanas e não-humanas. Qual é a rentabilidade dessa proposta para o universo artístico ameríndio?
Aula 2 – 30.7.2020
Ontologias e estéticas relacionais ameríndias
Serão abordados alguns exemplos de ontologias ou filosofias ameríndias e seus desdobramentos estéticos. O perspectivismo, o xamanismo e a transformabilidade dos seres e das formas informam os rituais e servem de pano de fundo para a compreensão das estéticas ameríndias.
Aula 3 – 6.8.2020
Gente-adorno e o homem nu
A importância dos adornos e dos grafismos na fabricação do corpo e no agenciamento de relações inter-específicas.
Aula 4 – 13.8.2020
No caminho da miçanga: pacificando o branco
As variadas elaborações filosóficas-estéticas e rituais dos povos ameríndios sobre a chegada dos brancos nos seus territórios a partir das contas de vidro, itens privilegiados na troca entre nativos e invasores desde a época da descoberta até os dias de hoje.
Aula 5 – 20.8.2020
Artistas indígenas contemporâneas
Na última aula serão exploradas algumas obras e discussões trazidas por artistas e pensadores indígenas para o campo da arte para o entendimento do seu potencial de revolução copernicana de perspectiva.
Els Lagrou é professora titular de Antropologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ); coordena o Núcleo de Arte, Imagem e Pesquisa Etnológica (NAIPE) e os seminários do SMARTIE. Publicou os livros A fluidez da forma: arte, alteridade e agência em uma sociedade amazônica (Topbooks, 2007), Arte indígena no Brasil: agência, alteridade e relação (C/Arte, 2013), editou com Carlo Severi Quimeras em diálogo, grafismo e figuração nas artes ameríndias (7Letras, 2013) e editou o catálogo da exposição da qual foi curadora, No caminho da miçanga (MI/UNESCO, 2017).