Henri de Toulouse-Lautrec foi um dos artistas europeus mais importantes da virada do século 19 para o século 20, momento decisivo para a arte moderna. Em
A condessa Adèle de Toulouse-Lautrec, do acervo do MASP, o jardim ao fundo é provavelmente do castelo de Malromé, de propriedade de sua família. A figura representada é Adèle Zoè Tapié de Céleyran (1841-1936), mãe do artista — que aparece em ao menos
duas outras pinturas suas. Na técnica empregada, Toulouse-Lautrec dissemina o branco das vestes nos buquês de flores do jardim em uma estratégia de vibração luminosa tipicamente impressionista. A natureza é
representada pelo artista por meio de pinceladas diagonais de variações cromáticas sutis. Além disso, em meio a essas irradiações de cor, destacam-se os ângulos retos em que se entrecruzam os eixos formados pelo
dossel do banco, o torso de Adèle e o guarda-chuva sobre seu colo. Tal organização geométrica é interrompida tanto pelo corpo da retratada, volumoso e totalmente vestido de blusa branca e saia escura, como pelo
perfil de seu rosto, representado em uma pose arcaica, sóbria e imponente. Em 2017, o MASP apresentou a mais ampla exposição dedicada a Toulouse-Lautrec no Brasil que, acompanhada de uma publicação sobre o artista,
abarcou toda a sua produção, desde os primeiros anos, na década de 1880, até o fim de sua vida, e reuniu 75 obras e 50 documentos. O MASP também possui 10 pinturas de Toulouse-Lautrec em seu acervo.
Em Madame la Comtesse Adèle de Toulouse-Lautrec au Jardin de Malromé, o jardim é provavelmente o do castelo de Malromé, de propriedade da família, onde o artista viria a falecer e onde pinta pelo menos dois outros retratos da mãe, entre 1880 e 1882. Camesasca fornece alguns dados
sobre Adèle Zoè Tapié de Céleyran (1841-1936), mãe do pintor, pertencente a uma família originária da região vizinha do Aude, que remonta ao século XII. As primeiras alianças entre as duas famílias datam do século
XVIII, sucedendo-se a estas entrelaçamentos labirínticos, aos quais se imputou não apenas a deformidade do artista, mas algumas das taras familiares. A separação de Adèle e Alphonse Charles (1838-1913) ocorreu um ano
após o nascimento do segundo filho do casal.
Lautrec dissemina o branco das vestes nos buquês de flores do jardim em uma estratégia de vibração luminosa tipicamente impressionista. Mas ao contrário dos impressionistas, a natureza não o interessa, exceto como um
padrão cromático. Além disso, em meio ao caos de suas irradiações, torna-se mais puro tanto o ângulo reto em que se cruzam os grandes eixos formados pelo dossel do banco e pelo torso de Adèle, quanto mais hipnótica a
rigidez de medalhão do perfil de seu rosto, o que confere à pose um caráter arcaizante.