O artista Paulo Nazareth baseia sua produção em caminhadas que se desdobram
em performances, fotografias, objetos, publicações, desenhos e vídeos. De
ascendência branca, negra e indígena, Nazareth considera suas “andanças”, como
ele mesmo chama, uma herança de sua avó, que era do Povo Borun, do Vale do
Rio Doce e, segundo o artista, desaparecida na primeira república, no início do
século 20. Dela, ele retomou o sobrenome Nazareth, como forma de preservar a
memória de seus antepassados oprimidos. Assim, ao produzir autorretratos, como
este díptico de fotografias, o artista discute como em seu rosto estão inscritos sua
ancestralidade, marcadores sociais e histórias do processo de formação do Brasil.
As fotografias de frente e de perfil remetem às imagens etnográficas surgidas no
século 19, fotos de documentos e fichas criminais, questionando as formas de
classificação sobre seu corpo. A obra foi produzida durante uma residência artística
na ecovila Terra Una, na Serra da Mantiqueira, e, nas fotos, um objeto construído
com madeira da região emula um instrumento de tortura na boca do artista. O título,
“Sem título [da série Para lembrá-lo de permanecer em silêncio 1]”, lhe ocorreu em
um sonho e evoca a dicção de ditados populares, remetendo à sentença do
opressor, mas com ironia e, portanto, também indicando a resistência daqueles que
são silenciados.
— Leandro Muniz, assistente curatorial MASP, 2022