MASP

El Greco

Anunciação, Circa 1600

  • Autor:
    El Greco
  • Dados biográficos:
    Cândia, Grécia, 1541-Toledo, Espanha ,1614
  • Título:
    Anunciação
  • Data da obra:
    Circa 1600
  • Técnica:
    Óleo sobre tela
  • Dimensões:
    106,5 x 72,5 x 3 cm
  • Aquisição:
    Doação Fúlvio Morganti, Pedro, Luiz e Dovilio Ometto, Baudilio Biagi,Arnaldo Ricciardi, Geremia Lunardelli e um grupo de canavieiros paulistas organizado por Nelson Mendes Caldeira, 1952
  • Designação:
    Pintura
  • Número de inventário:
    MASP.00166
  • Créditos da fotografia:
    João Musa

TEXTOS



Domenikos Theotokopoulos, apelidado de “El Greco” na Espanha, teve sua primeira formação em Creta, dentro da tradição artística de origem bizantina. Antes de 1567 mudou-se para Veneza, onde admirou, sobretudo, as pinturas da fase final de Ticiano (1488/90‑‑ 1576) e os dramáticos efeitos de luz e espaço nas obras de Tintoretto (1518-1594). Em 1575, talvez esperando participar das obras do Escorial, transferiu-se definitivamente para a Espanha. Dois anos depois já estava em Toledo, antiga capital e grande centro intelectual, onde trabalhou especialmente em obras de temática religiosa. Para muitos, foi ele quem melhor traduziu com seu estilo dramático na pintura a alma da cidade, orgulhosa de seu grande passado, mas então decadente depois de Felipe II fixar a capital em Madri. A obra Anunciação (circa 1600) é mencionada no inventário feito depois da morte de El Greco junto com outras seis versões quase idênticas, hoje distribuídas entre Cuba, Estados Unidos, Japão, Espanha e Hungria, todas datadas entre 1595-1605. Os corpos de Maria e do anjo Gabriel são exageradamente alongados, destacando sua tensão espiritual. O lírio branco simboliza a pureza e o arbusto queimando é a sarça ardente, por meio da qual Deus teria manifestado pela primeira vez sua presença a Moisés. O cenário fantasmagórico e sombrio, com a explosão de luz que representa o espírito santo — materializado na pomba — cria uma atmosfera arrebatadora e dramática.

— Equipe curatorial MASP, 2017





No inventário do artista, realizado no momento de seu falecimento em 1614, o tema da Anunciação ocorre cinco vezes, o que permite supor que El Greco o freqüentara recorrentemente ao longo de sua vida. Com efeito, a composição do Masp, Anunciação, integra-se a um grupo de sete obras quase idênticas, cujas outras seis encontram-se no Toledo Art Museum de Ohio, no Szépmüveszéti Múzeum de Budapeste (assinada), na coleção Soichiro Ohara de Kurashiki (Japão), na coleção Cintas de Havana, em Cuba, na coleção Zuloaga de Zumaya (Espanha) e na coleção Ralph Coe, de Cleveland, nos Estados Unidos, obras datadas dos anos 1595-1605. As sete obras em questão são tidas autógrafas pela totalidade dos estudiosos, à exceção de Wethey, que as considera de Jorge Manuel, filho do artista, ou de seu ateliê. Waldmann e Pallucchini notam com acume que a composição retoma uma idéia de primeira juventude, registrada no compartimento esquerdo do políptico de Modena (1567?), a qual, por sua vez, remontaria a uma obra perdida de Tiziano, reproduzida em uma gravura de Caraglio. É de acrescentar que não nos parecem menos patentes as afinidades da cena do políptico com a monumental Anunciação de Tintoretto nos Uffizi. El Greco retorna à composição dez ou quinze anos mais tarde, variando-a com a representação do Anjo de braços sobre o peito, na versão conservada no capítulo da Catedral de Sigüenza e na bela versão do Museu de Santa Cruz de Toledo, ambas também atribuídas ao mestre pela totalidade da crítica, à exceção de Wethey. De qualquer modo, a versão do Masp é de autografia inquestionável pela qualidade e por sua radicalidade superlativa na deformação estilística das anatomias, como se nota, por exemplo, na desmaterializada coluna de luz serpenteante que serve de braço ao Anjo anunciante. A composição é, como foi dito, relativamente inusual, com o Anjo posto à direita da Virgem, a relação entre ambas as personagens totalmente inflamada de espiritualidade, e o encontro, despojado da cenografia doméstica de que o cerca a tradição iconográfica das Anunciações do Cristo.

— Autoria desconhecida, 1998

Fonte: Luiz Marques (org.), Catálogo do Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand, São Paulo: MASP, 1998. (reedição, 2008).




Por Leandro Muniz
Domenikos Theotokopoulos nasceu no interior da Grécia e teve uma formação inicial como pintor de ícones bizantinos. Passou por Veneza e Roma, antes de fixar-se em Toledo, na Espanha, em 1576-77, onde ficou conhecido como El Greco. Nessas viagens, teve contato com artistas como Ticiano (1488/90‑1576) e Tintoretto (1518-1594), cujas influências podem ser percebidas nas distorções espaciais e cores não naturalistas de sua pintura. Sua obra inclui temas bíblicos dos quais lhe interessam, principalmente, as cenas de êxtase e revelação. O momento da Anunciação foi abordado em seis pinturas, que variam de formato, paleta e de elementos, cada uma refletindo um período da trajetória do artista e suas mudanças estilísticas. Os únicos aspectos que se mantêm são Maria ajoelhada com a bíblia; o arcanjo Gabriel sobre uma nuvem, anunciando que ela será a mãe de Jesus; e a pomba branca, símbolo do espírito santo que fecundaria a virgem. Na versão do MASP, Maria está virada para a esquerda, mas olha para o anjo acima à direita, criando uma diagonal ascendente, enfatizada pelos corpos alongados. Ela está sobre um genuflexório – móvel usado para orações –, em um espaço interior, mas há nuvens tempestuosas na porção superior do quadro, criando uma fusão entre o dentro e o fora. As cores são contrastantes e as relações de luz e sombra, abruptas. Assim, El Greco distorce a anatomia das figuras e as representações de luminosidade para criar efeitos dramáticos em suas narrativas sobre os contatos entre o divino e o humano.

— Leandro Muniz, assistente curatorial MASP, 2023



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