O Auto-Retrato Verde, uma das obras de uma sua exposição no Masp em 1996 da qual resultou a generosa doação, foi tematizado por Lorquin, que lhe atribui características de uma nova “forma de arte funerária”, pertencente a “um passado
imemorial e sobretudo a uma visão do além”. Trata-se efetivamente de uma aproximação do retrato na qual a frontalidade absoluta, a hipertrofia e a ênfase na centralidade das cavidades oculares, e sobretudo o arcaísmo
resultante da fixidez hierática do olhar, poderiam sugerir alguma analogia com o retrato transcendental do Baixo-Império, não raro caracterizado também pela maior proximidade do retratado em relação ao plano do
suporte. Um frescor de expressão e de humor, uma superabundância de vida psíquica ancoram solidamente tais retratos, porém, na moderna tradição da retratística. Não alheia por vezes à memória do expressionismo, a
retratística de Mari Carmen Hernández parece por outro lado demasiado musical e feliz para que lhe tente seriamente a desfiguração.