Em diferentes dias da semana, de modo presencial ou on-line, o MASP Escola oferece os cursos de Estudos Críticos, módulo que aborda tópicos específicos da cultura contemporânea. Cada curso tem duração mínima de 8 horas, ou quatro aulas de duas horas cada uma.
De programa intensivo, o módulo tem como objetivo ser um espaço de debate sobre as intersecções entre a arte e as questões políticas e sociais de peso na atualidade. As aulas também transitam pelos assuntos propostos pelos ciclos temáticos que pautam o programa de exposições do museu a cada ano.
A matrícula pode ser feita de maneira independente em cada um dos cursos.
Que imagens sobre o Brasil e sobre os brasileiros estão gravadas em nossas memórias? Que léxicos utilizamos para nos descrevermos? De que modo essas representações visuais e linguísticas orientam nossos olhares sobre os mundos Brasil e seus povos? O curso levanta essas questões por meio de um percurso histórico sobre a prática do arquivo nas primeiras instituições nacionais do Brasil e sua herança europeia, moldada no bojo das colonizações e da fabricação do dito “Outro não-ocidental”. A partir dessa recuperação, discutiremos estratégias artísticas de recusa a esses colecionismos de “corpos dissidentes” na arte contemporânea brasileira e seus diálogos transnacionais.
O curso apontará reflexões sobre a decolonialidade presente na educação e nas artes, por meio das formulações de conhecimento provenientes das experiências vividas com os saberes afro-brasileiros, indígenas e migrantes no contexto escolar e em diversos territórios do país. Orientado por projetos que compreendem a educação como ferramenta emancipatória e que a reconhecem como campo fértil para enfrentar a colonialidade e as violências decorrentes dela, partiremos do pressuposto de que os estudos e as ações que possibilitam outras compreensões e insurgências das histórias e das memórias excluídas pelo projeto civilizatório moderno/colonial são formas de descolonizar currículos e assumir uma educação antirracista.
Como compreender, hoje, a “memória” do carnaval brasileiro? Que narrativas e discursos estão em disputa, por debaixo do colorido de um desfile de escola de samba? De que maneiras é possível ler, interpretar, traduzir e desdobrar a multiplicidade de linguagens artísticas e vozes discursivas que se entretecem no interior de uma agremiação sambista? Eis apenas três entre incontáveis perguntas que, embebidas das urgências da contemporaneidade, nos fazem pensar nos papéis das escolas de samba enquanto entidades produtoras e difusoras de fazeres artísticos, pedagogias, epistemes, técnicas, políticas e poéticas. O curso, ao se debruçar sobre tal universo, propõe uma mirada panorâmica acerca dessas e outras fricções.
A sobrevivência da humanidade depende, fundamentalmente, da garantia da diversidade, seja ela biológica e/ou cultural. Neste curso, propomos contextualizar, desde uma abordagem teórico-histórica no âmbito das nas artes e a partir do século 20, práticas estético-políticas dissidentes de sexo e gênero que configuram estratégias de resistência. Ao investigarmos ecologias queer/cuir e ecofeminismos, examinaremos as possibilidades de construção de cartografias contra-normativas nas historiografia contemporânea das artes visuais brasileiras, com foco em experimentações metodológicas que propõem formas inovadoras de habitar, e observar, o planeta, a partir da diferença. Reuniremos um conjunto de estratégias de auto-representação, e auto-preservação, visando expandir o acesso aos arquivos abertos de movimentos, e coletivos, cujas práticas de coexistência vivenciamos como parte constitutiva do fim do mundo de hoje.
Ao longo desse curso, iremos analisar a produção de pintores e escultures modernistas negros atuantes no Brasil entre as duas últimas décadas do século 19 e o golpe de 1964. A cada aula, trataremos das trajetórias profissionais desses artistas junto a instituições de arte e de sua atuação política diante do turbilhão de transformações sociais de seu tempo. Buscaremos entender em que medida as trajetórias desses sujeitos se integraram, ainda que de forma periférica, ao sistema de arte em diferentes regiões do Brasil.
Em convergência com os esforços realizados pelo MASP em nome da diversidade de seu acervo nos últimos anos, o curso visa apresentar de forma didática o complexo e variado panorama formado pela produção de artistas mulheres presentes no acervo do museu. Em conjunto com o encadeamento cronológico, apontaremos também as principais linhas de discussão relacionadas à produção, recepção e estudo das artistas do acervo.
Este curso busca apresentar e discutir o panorama atual da arte contemporânea produzida no estado do Pará, analisando suas imagens, poéticas e narrativas a partir de mecanismos de leituras e escrituras híbridas. Serão debatidas obras de mais de 50 artistas e coletivos paraenses em múltiplas plataformas, de pintura e fotografia a performance e cinema. Conta com conferências de quatro artistas, críticas, ativistas e curadoras convidadas: Nay Jinknss, Rafael Bqueer, Lorenna Montenegro e Moara Tupinambá, cada uma com uma aula temática. O curso visa aprofundar questões sobre a diversidade de um ramo da arte contemporânea brasileira pouco explorado, que ainda luta contra estigmas de invisibilidade periférica na arte brasileira e a reducionismos regionalistas.
O curso pretende discutir aspectos históricos da arte brasileira por intermédio de sua vertente afro-indígena, por intermédio da representação do negro e do indígena nas imagens e abordagens relacionadas à arte moderna até a contemporânea. E, assim, compreender o ponto de clivagem dado pela produção atual que abandona a representação desses povos para torná-los protagonistas de sua história e produtores de arte contemporânea.
Por séculos, a sodomia foi entendida como o principal crime/pecado que se poderia cometer, com consequências para toda sociedade que fosse permissiva ante tais comportamentos, o que explica a perseguição às dissidências sexuais e de gênero durante a colonização do Brasil. A análise da documentação produzida no período, contudo, mostra o quanto, a despeito das penas extremas impostas por Igreja e Estado, não foi possível erradicar do território es antepassades da atual comunidade LGBTQIA+. Pensando nisso, a proposta do curso será mergulhar nessa documentação e reinventar as percepções históricas tanto do Brasil, quanto das dissidências que aqui existiam.
Com base em autobiografias de pessoas negras escravizadas, publicadas entre fins do século 18 e ao longo do século 19, o curso discutirá produções escritas e visuais que conectam trajetórias afro-diaspóricas. Serão investigadas as “fissuras” nas práticas de representação da população negra no mundo moderno e suas vinculações com o colonialismo, branquitude e o poder instituído. O objetivo é possibilitar outros olhares para temas recorrentes da historiografia sobre escravidão, liberdade e abolicionismo, além de refletir sobre conceitos como “outremização” (Toni Morrison) e “dispositivo racial” (Suely Carneiro) para a compreensão das culturas visuais contemporâneas. Ao longo das aulas, a produção iconográfica que se relaciona com a escrita autobiográfica no contexto da escravidão será apresentada e mediada. O professor Rafael Domingos Oliveira auxiliará os participantes a redimensionar tensões entre representação e autorrepresentação; os modos de ver e os modos de ser; e entre a luta abolicionista organizada e a agência da população negra sob diferentes condições de interação social.
O curso fará uma leitura e uma reflexão crítica sobre conjuntos de exposições que originaram catálogos de arte com autoria e organização indígenas. Discutiremos a produção da Arte Indígena Contemporânea (AIC), e os temas que ainda precisam ser descaracterizados nacionalmente, como os conceitos de arte, artefato, artista individual e artista coletivo que assombram politicamente a AIC. Abordaremos a forma como os artistas e coletivos da AIC tem sido apreciados a partir de um lugar que reconhece, na expressão e no debate, as especificidades culturais indígenas através dos catálogos já publicados: Moquém Surarî (2021), Nakoada (2022), Joseca Yanomami (2022), MAHKU: mirações (2023) e Carmézia Emiliano: árvore da vida (2023).
O curso propõe uma experiência de reflexão, debate e troca sobre a presença das artes e de artistas indígenas nos espaços museais brasileiros, na perspectiva da história da arte, partindo da análise de alguns estudos de caso, de modo a colocar em relação processos que envolvem tensões e negociações entre imaginários indígenas e não indígenas. A opção pela história da arte como posição teórica objetiva assumir a urgência da revisão de suas práticas, em diálogo com outras áreas de conhecimento e com as agências indígenas contemporâneas. Para isso, termos como enquadramento, deslocamento, descolamento e revisão de narrativas serão mobilizados e problematizados nos encontros.
No ano passado, o mundo da arte foi pego de surpresa pela popularidade de trabalhos em NFT. Logo em seguida, outro hype tomou as manchetes: a inteligência artificial. Obras feitas por algoritmos, textos inteiros sendo criados apenas por meio de perguntas, e artistas, antes mortos, aparecem em novos comerciais de publicidade. A velocidade é tanta que, em pouquíssimo tempo, muitos já dizem que os NFTs morreram e, agora, graças à "inteligência" algorítmica, os empregos como conhecemos desaparecerão. Quais são os impactos dessas tecnologias? E como elas afetam o setor museológico e, também, a produção artística?
Este curso trata das trajetórias e produções de mulheres artistas atuantes no Brasil no século 20, principalmente escultoras, sendo algumas reconhecidas – como Maria Martins e Lygia Clark e as pintoras Anita Malfatti e Tarsila do Amaral – e outras desconhecidas do grande público – como Felícia Leirner, Pola Rezende e Mary Vieira. Tem como objetivo apontar como as dinâmicas de gênero incidem sobre o campo artístico, revelando desigualdades. Aborda também as diferentes identidades de artista construídas por mulheres brasileiras ligadas a várias correntes estéticas.