Mauro Restiffe é um artista reconhecido tanto por seus trabalhos fotográficos sobre as cidades e seus diferentes espaços, como sobre a intimidade de sua vida pessoal e familiar. O fotógrafo utiliza a fotografia analógica, tanto colorida quanto em preto e branco, em impressões que revelam a complexidade dos grãos que constituem as imagens. Na série Avenida Paulista, de 2017, comissionada para a exposição no MASP com o mesmo título, o fotógrafo decidiu investigar os espaços internos domésticos na avenida que, originalmente, era marcada sobretudo por casas e edifícios residenciais. Com isso, Restiffe pesquisa os moradores remanescentes da Paulista em seus espaços íntimos e familiares. Utilizando-se do gênero do retrato, durante quatro meses o fotógrafo visitou e fotografou 65 apartamentos, criando uma espécie de mapeamento afetivo dos moradores da avenida. Desenvolvendo alguns polípticos de imagens a partir desses encontros, os conjuntos formam mosaicos narrativos, a partir da relação que foi travada naquela visita. Uma senhora que, altiva, fuma um cigarro diante de uma ampla janela; outra idosa, que havia perdido o marido, junto a seus móveis em estilo barroco em um apartamento fechado e intacto, relembra a época em que o companheiro vivia; sofás com motivos florais, mesas, camas feitas, quadros em estilo moderno; um casal que conversa e toma um café na varanda; uma jovem que, deitada em seu sofá, se agarra a uma almofada e olha singelamente na direção da câmera que a captura. Nesta série, o protagonista é menos o retratado e mais o contexto em que vive, espaço capturado por Restiffe como um cenário teatral ou cinematográfico. O fotógrafo numerou as obras na ordem cronológica em que se deram as visitas, e nomeou-as com o nome do edifício no qual o retratado vivia.

— Guilherme Giufrida, curador assistente, MASP, 2022