Picasso formou‑se na Escuela de Bellas Artes de Barcelona, em 1895, e participou do movimento modernista catalão. Em 1904, mudou‑se definitivamente para Paris. Seu ateliê na rua Ravignan tornou‑se ponto de encontro de artistas e intelectuais. Nas obras do primeiro período parisiense, dividido entre fase azul e fase rosa, o artista tratou principalmente a vida dos pobres e dos marginalizados, com formas simplificadas e construções espaciais ousadas e inspiradas em Paul Cézanne (1839‑1906), Paul Gauguin (1848‑1903) e Henri de Toulouse‑ Lautrec (1864‑1901). Por meio desses exemplos e de referências da produção artística dos povos da África e da Oceania, Picasso desenvolveu uma original síntese formal entre objeto e ambiente, que culminaria na criação do cubismo, com a obra Les Demoiselles d’Avignon (1907). Em Busto de homem (O atleta), desse mesmo período, Picasso fez um retrato com quebras bruscas e geométricas no corpo e no rosto. A força dos volumes transmite sensações táteis intensas. Figura e fundo têm os mesmos tons de cinza e ocre. As experiências estilísticas presentes nesta obra anunciam alguns dos principais pontos de sua produção: a busca pela sensação de movimento na imagem estática, o abandono da fidelidade ao modelo real e a insistência na figuração, na contramão das tendências abstracionistas.
— Equipe curatorial MASP, 2015
Os planos facetados do torso, na melhor maneira cubista, induziram ao errôneo título O Atleta, corrigido por Zervos para Busto de Homem. A obra foi pintada no verão de 1909, em Horta de Ebro, hoje Horta de San Juan, dois anos depois, portanto, de Les Demoiselles d’Avignon, da qual distancia-se claramente pelas tonalidades cinzas e ocres, mais próximas da quase monocromia da fase paroxística do cubismo (1911-1913), e sobretudo pela recusa ao dinamismo da linha curva, em prol do que se convencionou chamar de cristalização das formas. Embora ainda portador de um certo pathos expressionista, o Busto anuncia com efeito o cubismo “analítico” mais extremo dos retratos de Vollard, Uhde e Kahnweiler, como já notado por Camesasca (1987, p. 219).
— Autoria desconhecida, 1998