Quiltssão mantas acolchoadas feitas da junção de vários tecidos, técnica conhecida na Europa desde pelo menos 1600. Foi a partir do século 18 que esse tipo de produção ganhou força nos Estados Unidos, a ponto de hoje ser
associada principalmente a esse país.
Em 1776, as colônias americanas declararam sua independência, o que resultou na proibição do comércio com o Reino Unido e estimulou a produção local de tecidos. Logo na sequência, essa produção têxtil ganhou escala
industrial, com as mulheres constituindo‑se como a principal força de trabalho. No Norte do país, as mulheres empregadas na indústria têxtil (brancas ou negras, normalmente jovens e solteiras) poderiam ter uma vida
mais independente do ponto de vista econômico e acesso a uma variedade de bens de consumo para si e para suas famílias, incluindo tecidos para roupas, cortinas, toalhas e
quilts.
Em busca de uma posição social mais estável, muitas fizeram parte de organizações de caridade. Essas associações permitiam que ampliassem sua atuação na comunidade e asseguravam a formação de redes de solidariedade e
pertencimento, para além do espaço doméstico que lhes era reservado até então. A venda das
quiltsem feiras beneficentes acabou, também, se revelando uma estratégia importante para angariar fundos para diversos projetos sociais e políticos, como a abolição da escravidão, o sufrágio feminino e a luta pelos
direitos dos trabalhadores. Durante a Guerra Civil norte‑americana (1861‑1865), estima‑se que tenham existido entre 7 e 20 mil associações de mulheres, chamadas genericamente de “Ladies’ Aid Society” [Sociedade
assistencial de mocas], que apoiaram ambos os lados do conflito. Dessa maneira, os
quiltsnão apenas desmentem a função meramente “decorativa”, em geral atribuída a eles, como também apresentam um verdadeiro vocabulário geométrico, muito anterior ao dos artistas (homens) modernos que se consagrariam como
pioneiros da arte abstrata.