Jan van Dornicke era filho de um escultor e atuou na Antuérpia entre 1509 e 1527, sendo um dos mais importantes mestres da cidade na época. Estima-se que existam apenas 20 obras suas conservadas, uma delas doada ao
MASP em 2004. O retábulo, possivelmente realizado na década de 1520, é composto de três painéis figurando Cristo carregando a cruz, a crucificação e a deposição de Cristo no sepulcro. Há certo decoro nos gestos e nas
expressões teatrais das personagens; as figuras em primeiro plano conformam núcleos independentes na cena, de modo que o olhar possa seguir diversas e conflitantes narrativas, em que a dor e a compaixão se mesclam
com a violência mais brutal. As cores das roupas das mulheres e dos ornamentos suntuosos dos guerreiros destacam os protagonistas desses contrastes dramáticos. As composições são inspiradas nas xilogravuras de
Albrecht Dürer (1471-1528) e de Lucas Cranach, o Antigo (1472-1553). As partes laterais da obra podem ser fechadas ou abertas para ocultar ou revelar as pinturas internas, conforme as exigências do calendário
litúrgico. É possível que também o exterior de tais painéis apresentasse imagens hoje desaparecidas.