A rigidez dos materiais e a estaticidade de volumes sólidos são constantemente postos à prova nas obras de Ascânio MMM. As esculturas de alumínio ou de madeira do artista português baseado no Brasil sugerem movimento
pela repetição rigorosa de módulos geométricos idênticos.
Escultura 20é um volume de escala antropomórfica em torsão progressiva característico da produção do artista nos anos 1970, quando agenciava ripas de madeira pintadas de branco em rotação sob seu próprio eixo. A fluidez
cadenciada e o fluxo ritmado por um acentuado jogo de luz e sombras dessa obra justificou a sua contextualização na exposição coletiva
Histórias da dança– que tinha como uma de suas premissas fazer dialogar representações iconográficas de dança com trabalhos que incorporam qualidades como pulsação e dinamismo de forma não figurativa. A sinuosidade vibrante da
escultura também foi colocada em relação com os rodopios dos drapeados esvoaçantes da dança serpentina de Loïe Fuller (1862-1928). Nesse trabalho que revolucionou a concepção de dança, de figuro e do espaço cênico, a
atriz e dançarina estadunidense fazia voltear freneticamente um amplo vestido de seda iluminado por feixes de luz de cores alternadas. Todos esses artifícios de cena faziam com que o corpo da artista desaparecesse
por trás de movimentações fantasmagóricas, criando a ilusão de uma dança protagonizada por volumes e formas abstratas em movimento.