A rigidez dos materiais e a estaticidade de volumes sólidos são constantemente postos à prova nas obras de Ascânio MMM. As esculturas de alumínio ou de madeira do artista português baseado no Brasil sugerem movimento pela repetição rigorosa de módulos geométricos idênticos. Escultura 20 é um volume de escala antropomórfica em torsão progressiva característico da produção do artista nos anos 1970, quando agenciava ripas de madeira pintadas de branco em rotação sob seu próprio eixo. A fluidez cadenciada e o fluxo ritmado por um acentuado jogo de luz e sombras dessa obra justificou a sua contextualização na exposição coletiva Histórias da dança – que tinha como uma de suas premissas fazer dialogar representações iconográficas de dança com trabalhos que incorporam qualidades como pulsação e dinamismo de forma não figurativa. A sinuosidade vibrante da escultura também foi colocada em relação com os rodopios dos drapeados esvoaçantes da dança serpentina de Loïe Fuller (1862-1928). Nesse trabalho que revolucionou a concepção de dança, de figuro e do espaço cênico, a atriz e dançarina estadunidense fazia voltear freneticamente um amplo vestido de seda iluminado por feixes de luz de cores alternadas. Todos esses artifícios de cena faziam com que o corpo da artista desaparecesse por trás de movimentações fantasmagóricas, criando a ilusão de uma dança protagonizada por volumes e formas abstratas em movimento.
— Olivia Ardui, curadora assistente, MASP, 2020
Por Olivia Ardui
Radicado desde os anos 1960 no Brasil, o artista português Ascânio Maria Martins Monteiro, ou Ascânio MMM, tem formação em arquitetura e realiza sobretudo trabalhos escultóricos. Sua obra possui elevado grau de detalhe na construção de formas abstratas, com conotação que sugere movimento. Em suas composições, o artista põe constantemente à prova tanto a rigidez dos materiais de suas esculturas (usualmente feitas em madeira ou alumínio) quanto a estaticidade de volumes sólidos. Desse modo, as esculturas do artista parecem causar um efeito cinético, ocasionado pela repetição rigorosa de módulos geométricos idênticos. Escultura 20, do acervo MASP, é um volume de escala de dimensões humanas em torção progressiva. Tal estilo é característico da produção do artista nos anos 1970, quando manuseava ripas de madeira pintadas de branco em rotação sob seu próprio eixo. A fluidez cadenciada e o fluxo ritmado é acentuado pelo jogo de luz e sombras dessa obra. Além disso, a sinuosidade vibrante da escultura pode ser colocada em relação com os rodopios de movimentos de dança, protagonizados neste caso por volumes e formas abstratas e estáticas. Por esse motivo, a obra foi incorporada ao acervo no contexto do projeto Histórias da dança, de 2020, no MASP.
— Olivia Ardui, curadora assistente, MASP, 2021