Rosina Becker do Valle (1914-2000) passou a se dedicar à pintura na década de 1950 após frequentar o curso de Ivan Serpa no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. A artista participou de diversos salões nacionais, de duas bienais de São Paulo, além de exposições individuais e coletivas no Brasil e no exterior. Apesar de suas participações em importantes exposições, é controversa a escassez de material disponível para pesquisa em torno da vida e produção da artista. Em sua obra, a artista trabalhou com temas como as festas populares, a religiosidade afro-brasileira e a diversidade étnica e cultural do país. Em Índio na floresta (Caboclo) (1963), vemos um homem de pele negra com um sorriso ambíguo no rosto (ressaltado pelo adorno de sua cabeça) enquanto encara o espectador e levanta sua lança. Seu corpo é emoldurado por diversos elementos da natureza como folhas, flores e animais. A escala desproporcional dos animais em relação ao corpo do homem sugere que o índio na floresta possa ser também uma figura espiritual, um caboclo como o título indica, que é uma entidade ameríndia presente nas religiões de matriz africana no Brasil, como o Candomblé e a Umbanda. Se por um lado o título do trabalho faz referência a um indígena, por outro, alguns dos animais representados estabelecem uma relação com a África, por serem típicos do continente, como a zebra, o leão, a girafa, a hiena e o elefante.
— Mayara Santos, estagiária da Curadoria, 2020