Além de fotógrafo e jornalista, Tuca Vieira é mestre em arquitetura, o que se reflete no tema central de seu trabalho: imagens de cidades, especialmente São Paulo. Algumas obras são realizadas de um ponto de vista distanciado, mostrando como o espaço é organizado; em outras, a câmera é posicionada próxima aos seus objetos, registrando texturas de superfícies. Há ainda aquelas nas quais o artista captura a cena do alto, como em Largo da Concórdia. Surgida em meados do século 19, essa praça na região centro-leste de São Paulo abriga, desde 2010, o Monumento ao Migrante Nordestino, demonstrando as múltiplas origens das pessoas que habitam e constroem a cidade. Em 2007, o Largo passou por um processo de revitalização que implantou canteiros e restaurou fachadas de prédios. A fotografia de Vieira é de um período anterior, 2005, quando a região era quase completamente povoada por vendedores ambulantes que montavam barracas cobertas por toldos, formando grandes áreas cobertas. Com blocos de cor azul, pontuados por amarelos e laranjas, a fotografia é cortada por um trecho de rua em diagonal à direita, enfatizando a sensação de movimento, também acentuada pelo deslocamento dos ônibus e das pessoas sobre o asfalto. Vieira não se interessa pelos cartões-postais habituais de São Paulo, mas pelos usos orgânicos do espaço, para além daqueles planejados por arquitetos e urbanistas. Sem ignorar as desigualdades urbanas, o artista apresenta a capital paulista por outros ângulos, criando uma visão panorâmica que ao mesmo tempo revela conflitos e potências sociais, estéticas e políticas da ocupação da cidade.
— Leandro Muniz, assistente curatorial, MASP, 2023