O trabalho de Iran do Espírito Santo altera a percepção de espaços e objetos, criando novas possibilidades de existência instalativas e escultóricas para eles. O artista realizou diversas obras a partir de itens encontrados no mercado de construção, embalagem e decoração: porcas e roscas, lâmpadas, globos de vidro, caixas de fósforo e sapato, abajures, velas e castiçais. Entre 2003 e 2009, executou a série Lata, com 16 obras no total. Cada letra (A à P) se refere a um tipo de recipiente para produtos alimentícios: ervilha, tomate, café, óleo, atum. A concepção do trabalho parte do estudo e medição de latas comuns do mercado até a produção das esculturas em uma metalúrgica especializada em aço inoxidável. Além do metal muito mais resistente do que a liga normalmente utilizada, as esculturas de Espírito Santo são sólidas e pesadas, e medem o dobro daquelas que serviram como base. A referência às latas remete a obras de nomes da arte pop estadounidense, como Jasper Johns e Andy Warhol. Espírito Santo investiga a possibilidade de se examinar matematicamente as coisas, delas serem descritas, calculadas, representadas e reproduzidas precisamente pelo artista-escultor. Evidencia os fortes efeitos perceptivos de se alterar materiais, escalas e contextos — neste caso, das gôndolas do supermercado para o museu. Fixa no tempo algo tomado normalmente como anônimo, transitório e descartável, transformando um recipiente comum, existente por sua utilidade, em obra de arte, sofisticada e sem qualquer utilidade prática. Ao retirar toda e qualquer etiqueta ou adorno, o artista sublinha, ainda, a complexidade formal e arquitetônica destes objetos cotidianos e supostamente banais.
— Guilherme Giufrida, curador assistente, MASP, 2021