Por Pollyana Quintella
Marinheiro de Gênova, na Itália, João Baptista Castagneto (1851-1900) veio para o Brasil em 1874, onde estudou pintura de paisagem com Georg Grimm (1846-1887) na Academia Imperial de Belas Artes, no Rio de Janeiro. O mestre alemão incentivava seus alunos a romper com os métodos tradicionais e pintar ao ar livre, o que o levou a criar um ateliê na praia de Boa Viagem, em Niterói — experiência que seria transformadora para sua obra. Marinha com barco (1895), realizada em seus últimos anos de vida, é uma pintura a óleo feita sobre a tampa de madeira de uma caixa de charutos, suporte frequente em sua produção. Embora identifiquemos um barco encalhado, não há nenhum outro signo explícito, contornos rigorosos ou linhas bem definidas, o que faz com que céu e mar sejam fundidos na paleta de tendência monocromática. O pintor não representa aqui nenhum grande evento histórico segundo os padrões acadêmicos, nem mesmo manifesta o anseio de fixar as características de uma vista local. Embora seja uma pintura en plein air (expressão francesa usada para descrever o ato de pintar ao ar livre), não sabemos que praia é essa, e isso torna-se desimportante. O que se sobressai com a gestualidade rápida e sintética do artista é a construção de uma atmosfera subjetiva, o embate entre homem e natureza, bem como certo sentimentalismo melancólico. Castagneto estava interessado na vida simples dos pescadores, nos detalhes silenciosos da paisagem e no lirismo dos recantos à beira-mar. Sua obra deixou uma notável contribuição para o processo de modernização da pintura brasileira.
— Pollyana Quintella, mestre em Arte e Cultura Contemporânea, UERJ, 2021