MASP

Pedro Correia de Araújo

Mulata e os arcos, 1939

  • Autor:
    Pedro Correia de Araújo
  • Dados biográficos:
    Paris, França, 1874-Rio de Janeiro, Brasil, 1955
  • Título:
    Mulata e os arcos
  • Data da obra:
    1939
  • Técnica:
    Óleo sobre madeira
  • Dimensões:
    69,5 x 51 cm
  • Aquisição:
    Doação Sérgio Werlang, 2018
  • Designação:
    Pintura
  • Número de inventário:
    MASP.10753
  • Créditos da fotografia:
    MASP

TEXTOS



Embora de família pernambucana, Pedro Correia de Araújo nasceu e estudou arte em Paris. Ali aprendeu a utilizar a matemática na construçã o de seus trabalhos, como se nota neste Mulata e os arcos, em que o corpo e a paisagem se estruturam em volumes geométricos, uma escolha que se tornaria marca de seu estilo e precisão. Esta pintura também é representativa da particular tensão criada pelo artista entre, de um lado, as técnicas acadêmicas, que ele dominava, e, de outro, os temas da “brasilidade”. É notável como o corpo é o lugar para uma intervençã o ordenadora, uma espécie de “monumento” que se contrapõe à paisagem. Neste caso, à arquitetura, os chamados Arcos da Lapa. Erguido no século 18 em estilo românico, o antigo Aqueduto da Carioca é a mais portentosa construçã o do Brasil Colônia. Sua estrutura e seus 42 arcos duplos foram erguidos por mão de obra de escravizados africanos e indígenas. Aqui, como em outras pinturas suas, o artista trata com rigor e distanciamento um suposto “exotismo brasileiro”. Nesse sentido, a obra é testemunha renovada do encontro de uma hipotética paisagem do Brasil com a narrativa da grande tradiçã o pictórica europeia. Mulata e os arcos é uma das mais importantes obras da maturidade de Correia de Araújo, quando o erotismo sempre latente de sua produçã o se manifesta como algo racional. Não se resume a uma mera tentativa de expressão da subjetividade, caminho que ele desprezava, mas integra programa mais amplo, ambicioso. Esse erotismo evita se ocultar sob uma tentativa de estetizaçã o do mundo e dos objetos, não é cenográfico ou decorativo (caso das “típicas mulatas” de seu contemporâneo Di Cavalcanti). Integra uma matriz geométrica, a mesma que organiza a representaçã o de suas figuras, fazendo dessas mulheres figuras complexas e repletas de caráter, verdadeiras representações de força e segurança.

— Autoria desconhecida




Por Fernando Oliva
Pesquisando para a mostra Pedro Correia de Araújo: Erótica fui ao Rio de Janeiro me encontrar com o colecionador Sérgio Werlang, que me recebeu em seu apartamento na Lagoa, com vista para o Corcovado, onde mantém obras como a excepcional Mulata e os arcos. Ou melhor, mantinha. Terminada a exposição, no final de 2017, convidei o colecionador para uma visita ao museu. Lá, numa ensolarada tarde de sábado, passeando em meio aos cavaletes de vidro de Lina Bo Bardi, voltei-me para ele: "Sérgio, por incrível que pareça o MASP não possui nenhum Correia de Araújo. O que você acha de doar Mulata e os arcos?". Refeito do susto, ele respondeu, sorrindo, que "iria pensar". Eu reforcei: "Ela ficaria aqui, ao lado de Burle Marx e de Cândido Portinari, vista por mais de meio milhão de pessoas ao ano". Para nossa grande alegria Werlang confirmou a doação, recomendada também pelo comitê artístico do museu. Werlang também apoiou generosamente o catálogo da mostra do artista no MASP. Sempre me lembro desse episódio quando, flanando pelo acervo, me deparo com esta mulher negra que, séria, monumental, nos observa, emoldurada pela rígida arquitetura dos Arcos da Lapa, no Rio. Ela é mais uma prova de que Araújo, grande retratista de mulheres, não se rendia ao voyeurismo banal, fazendo delas figuras complexas, repletas de caráter e personalidade, verdadeiras representações de força, estabilidade e segurança.

— Fernando Oliva, curador, MASP, 2020

Fonte: Instagram @masp 11.04.2020



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