Engenheiro civil de formação, Flávio de Carvalho é um dos principais artistas da primeira geração de vanguarda no Brasil, pioneiro em uma série de experimentações multimídia. Viveu na Europa na década de 1910, e em 1922, depois da Semana de Arte Moderna — da qual não participou —, voltou a residir em São Paulo, onde participou de concursos arquitetônicos e realizou projetos de cenário e figurino para teatro, caminhadas e percursos, como a Experiência n. 2 (1931), em que atravessa uma procissão de Corpus Christi em sentido contrário — obra considerada precursora da performance no país —, além de pinturas. Nu feminino deitado (1932) foi realizada num período em que Carvalho montava um ateliê coletivo, o Clube dos Artistas Modernos (CAM), com nomes como Antonio Gomide (1895-1967), Emiliano Di Cavalcanti (1897-1976) e Carlos Prado (1908-1992), em diálogo com compositores, escritores e psiquiatras. Neste retrato, vê-se deitada sobre uma cama uma mulher desnuda, cujos membros têm formas decompostas e geometrizadas, destacados em diferentes tons cromáticos, em um procedimento que remete ao cubismo. Notam-se as coxas e os seios fartos, e os braços cruzados da figura sobre si mesma. As cores fortes — azul marinho, ocre e marrom — ocupam a tela por meio de pinceladas densas de tinta. Esses elementos dão peso e expressão ao rosto e ao corpo da figura, ao passo que sua posição denota o onírico, o devaneio e o metafísico.
— Guilherme Giufrida, curador assistente, MASP, 2020