Belmiro de Almeida frequentou o Liceu de Artes e Ofícios antes de ingressar na Academia Imperial de Belas Artes, em 1877, onde foi aluno do pintor Zeferino da Costa (1840-1915). Em 1888, viajou para Paris e, desde
então, alternava estadias no Brasil e na França, onde entrou em contato com a obra de artistas como Edouard Manet (1832-1883) ou Georges Seurat (1859-1891). De Almeida também era conhecido por suas caricaturas e
colaborou com vários periódicos. O exagero das feições e maneiras de um indivíduo é evidente em
O poeta Alberto de Oliveira. O retratado (1857-1937), farmacêutico de formação, é considerado o mais destacado representante da poesia parnasiana no Brasil. Segundo Machado de Assis (1839-1908), no ensaio “A nova geração” (1879), “o verso do
sr. Alberto de Oliveira tem a estatura média, o tom brando, o colorido azul, enfim, um ar gracioso e não épico”. As palavras do escritor descrevem bem a figura do dândi: um elegante poeta com o gesto característico
de alisar os bigodes exageradamente alongados. O tom azulado, quase monocromático, e as proporções franzinas do corpo em contraste com o tamanho da cabeça e das mãos só reforçam a inconsistência entre o mundo
fantástico e nebuloso do poeta e a realidade.
Por Eugênia Gorini Esmeraldo e Luiz Marques
Poeta “doméstico, delicado, fino”, como o qualifica Machado de Assis, Alberto de Oliveira (1859-1937), farmacêutico de formação, ocupou vários cargos públicos no Rio de Janeiro, inclusive o de diretor geral da
Instrução Pública, entre 1893 e 1898. Aos dezoito anos, publica
Canções Românticas, longa e elogiosamente resenhada um ano depois, em A Nova Geração(1879), por Machado de Assis. O romancista critica-lhe apenas a resolução programática de imitar Victor Hugo, confessada nos versos dedicados a Fontoura Xavier: “Eu, como tu, folheio a lenda dos gigantes/ E sei lhes
dar também uma canção na lira”. A que se segue, por parte do crítico, o comentário divertido: “o verso do Sr. Alberto de Oliveira tem a estatura média, o tom brando, o colorido azul, enfim um ar gracioso e não épico.
Os gigantes querem o tom másculo. O autor de
Luz Nova e do Primeiro Beijotem muito aonde ir buscar a matéria a seus versos. Que lhe importa o guerreiro que lá vai à Palestina? Deixe-se ficar no castelo, com a filha dele, não digo para dedilharem ambos um bandolim desafinado, mas para
lerem juntos alguma página da história doméstica”. Em 1883,
Sonetos e Poemasvirá confirmar Alberto de Oliveira como poeta dos mais significativos do parnasianismo do Brasil. Membro-fundador da Academia Brasileira de Letras, caberá ao poeta saudar “com verso de amigo”, durante a sessão de 11
de agosto de 1905, Machado de Assis, pelo ramo de carvalho Tasso, que lhe enviara de Recife Joaquim Nabuco (carta de Machado de Assis a Joaquim Nabuco, n. 144, 11/7/1905).
Nada se sabe das relações de Belmiro com Alberto de Oliveira, durante os anos de que data o retrato
O Poeta Alberto de Oliveira, isto é, por volta de 1895-1900, a julgar pela aparente idade do retratado. Mas é certo que a obra-prima de Belmiro, Arrufos– é de se crer, jocosamente alusiva às relações entre a pintura e a crítica (Belmiro retrata, como se sabe, Gonzaga-Duque na figura do irredutível esposo) –, bem poderia ilustrar um poema da “história doméstica” de
que fala Machado de Assis ao definir a temática de Oliveira. Vale dizer que, entre o poeta e o pintor, intercorriam flagrantes afinidades de tema e estilo. Além disso, deve-se atentar para o fato de que o retrato à
maneira de
charge, com o gesto característico de se cofiar os bigodes, enfatiza o caráter de dandyde Alberto de Oliveira, similar ao pintor zeloso da impecabilidade de sua toilette, como a Belmiro se referia em 1887 Gonzaga-Duque. A oportunidade da caricatura pode ter sido oferecida pela posse do poeta na Academia Brasileira de Letras em 1897.