Rafael Borjes é o pintor das divindades africanas. Aos sete anos, com o apoio de uma família de Salvador, matriculou‑se no Colégio Salesiano da capital baiana. Lá estudou para ser carpinteiro, profissão que exerceu
ao longo de toda a vida. Em 1938, já era pai de santo e, em sua casa em Salvador, funcionava um terreiro de candomblé. Suas primeiras pinturas tinham finalidade religiosa. O MASP possui duas obras de sua autoria,
doadas pelo artista. Em
Oxosse na sua caçada, Rafael Borjes pintou a divindade Oxóssi, orixá da caça, das matas e dos animais. Na tela, uma estrada que começa na parte inferior desvia seu curso para acompanhar o rio, criando uma profundidade intuitiva. Algumas
canoas parecem conectar os terrenos separados pelo rio. Vários animais participam da cena: uma cobra, um tatu, uma libélula, um porco, um lagarto, veados, entre outros. De verde, azul e amarelo, Oxóssi carrega uma
espingarda. Todos os animais rumam para o mesmo lado, menos a cobra. Orixás são as divindades dos povos iorubá, da costa oeste da África, associadas à natureza. Essa matriz cultural chegou ao Brasil por meio dos
escravos e se reconfigurou em religiões como umbanda e candomblé, grandes expressões de resistência cultural negra.