MASP

Rafael Borjes de Oliveira

Oxosse na sua caçada, 1952

  • Autor:
    Rafael Borjes de Oliveira
  • Dados biográficos:
    Santo Amaro, Bahia, Brasil, 1912
  • Título:
    Oxosse na sua caçada
  • Data da obra:
    1952
  • Técnica:
    Óleo sobre painel
  • Dimensões:
    53,5 x 80 x 0,5 cm
  • Aquisição:
    Doação do artista, 1952
  • Designação:
    Pintura
  • Número de inventário:
    MASP.00348
  • Créditos da fotografia:
    Eduardo Ortega

TEXTOS



Rafael Borjes é o pintor das divindades africanas. Aos sete anos, com o apoio de uma família de Salvador, matriculou‑se no Colégio Salesiano da capital baiana. Lá estudou para ser carpinteiro, profissão que exerceu ao longo de toda a vida. Em 1938, já era pai de santo e, em sua casa em Salvador, funcionava um terreiro de candomblé. Suas primeiras pinturas tinham finalidade religiosa. O MASP possui duas obras de sua autoria, doadas pelo artista. Em Oxosse na sua caçada, Rafael Borjes pintou a divindade Oxóssi, orixá da caça, das matas e dos animais. Na tela, uma estrada que começa na parte inferior desvia seu curso para acompanhar o rio, criando uma profundidade intuitiva. Algumas canoas parecem conectar os terrenos separados pelo rio. Vários animais participam da cena: uma cobra, um tatu, uma libélula, um porco, um lagarto, veados, entre outros. De verde, azul e amarelo, Oxóssi carrega uma espingarda. Todos os animais rumam para o mesmo lado, menos a cobra. Orixás são as divindades dos povos iorubá, da costa oeste da África, associadas à natureza. Essa matriz cultural chegou ao Brasil por meio dos escravos e se reconfigurou em religiões como umbanda e candomblé, grandes expressões de resistência cultural negra.

— Equipe curatorial MASP, 2015

Fonte: Adriano Pedrosa e Olivia Ardui (org.), MASP de bolso com a TATE, São Paulo: MASP, 2018.




Por Matheus de Andrade
Rafael Borjes de Oliveira foi um importante artista do modernismo baiano e representou muitas divindades africanas em seus trabalhos. Babalorixá (líder espiritual também chamado Pai de santo) de um terreiro de candomblé que funcionou em sua casa, na cidade de Salvador, suas primeiras pinturas tinham uma finalidade religiosa. Em Oxosse na sua caçada, pertencente ao acervo do MASP, a estrada sinuosa e o rio delimitam o espaço de um denso bosque colorido e repleto de animais. Os barcos e o casario no horizonte dão profundidade ao cenário em que se encontra um homem caçando, bem ao centro da tela. Ele é a representação da divindade africana Oxóssi, senhor dos caçadores e guardião das matas e dos animais, e que é representado pelo Ofá: um arco e flecha que aqui o artista substituiu por uma espingarda—mais coerente com uma representação contemporânea. Suas roupas remetem aos trajes de caçadores Iorubás—povo africano que vive onde hoje se localiza a Nigéria, o Benin e o Togo e que deu origem ao culto dos orixás—, mas também às cores da bandeira brasileira, demarcando um entrelaçamento de culturas que se deu com a diáspora africana—o que também é reforçado pela escolha de retratar o caçador como um homem branco. Oxóssi é responsável pela manutenção da vida, dos homens e dos animais, e por garantir alimento em abundância para seu povo, trazendo carne, folhas e frutos da floresta. Justo e certeiro, ele caça com uma só flecha, como vemos aqui: apenas um dos muitos animais que habitam a paisagem foi abatido. No Brasil, o culto a Oxóssi também está relacionado à figura do indígena, daí a pena que o caçador utiliza em seu chapéu. Já a serpente que caminha em sentido oposto a todos os outros animais é comumente utilizada na Umbanda e no Candomblé de caboclo para representar o mundo espiritual.

— Matheus de Andrade, assistente de pesquisa, 2022



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