A vida de Corot foi marcada por uma intensa produção e por viagens que alimentaram sua pintura, em constante transformação e sem adesão rígida a qualquer estilo específico. O MASP possui cinco obras do artista: três
retratos, uma paisagem e uma natureza-morta. Em
Cigana com bandolim(1874), retrato da soprano sueca Kristina Nilsson (1843-1921), os ocres e vermelhos revelam uma sobriedade calculada. O cuidado com a cor é também a tônica da obra
Rosas num copo(1874), em que a transparência do copo e a variação entre pedaços diluídos e maciços de tinta criam a sensação de umidade. O fundo uniforme destaca a cor de cada pétala. As linhas vertical e horizontal e o copo
deslocado do centro dão um aspecto casual e intimista para a imagem, como se ela fosse o recorte de uma distração. É uma das três únicas pinturas de flores do artista.
Paisagem com camponesa(1861) tem uma gradação de azuis entre o céu e as colinas ao fundo, semelhante à do verde do pasto e das plantas no centro do quadro. A divisão horizontal marca um espelhamento tanto na cor quanto na composição: o
terreno declina na mesma medida em que a linha azul da paisagem se levanta. A árvore ao centro conecta os dois planos, enquanto a camponesa representa o trabalho como um elemento constitutivo dessa paisagem.
Por Felipe Martinez
As paisagens do francês Jean-Baptiste Camille Corot (1796-1875) destacam-se mais por sua harmonia tonal do que pela intensidade de suas cores.
Paisagem com camponesaé um claro exemplo disso: o artista era capaz de construir o espaço de suas obras por meio da variação de temperatura entre as cores aliada a sutis gradações de tonalidade. Este tema aparece também com frequência nas
obras de outros artistas da chamada Escola de Barbizon, na qual se incluem Corot e outros grandes nomes da pintura francesa do século 19, como Jean-François Millet (1814-1875). As obras de Corot não só celebram o
campo em contraposição à indústria e às cidades, mas também revelam uma visão particular de mundo,
um pedaço da natureza filtrado por um temperamento, como escreveu o escritor francês Émile Zola (1840-1902). Além disso, paisagens eram gêneros comercializáveis de primeira ordem: eram facilmente entendidas pelo público, tinham um tamanho compatível com as vitrines
e paredes das galerias e revelavam a personalidade de seu autor. O mercado de arte do século 19 era antes um mercado de temperamentos que de obras propriamente ditas. Os paisagistas de Barbizon foram fundamentais
para aquecer o mercado de arte, a essa altura já muito associado ao mundo financeiro. No final da década de 1870, quando a maioria dos artistas do grupo já havia falecido, os preços atingidos pelas pinturas de Corot
e Millet estavam entre os maiores já pagos por pinturas até então. Foi essa valorização que permitiu que os principais marchands da época, como Paul Durand-Ruel (1831-1922), pudessem acumular capital suficiente para
que se arriscassem com os impressionistas no fim daquele século.
Por Luciano Migliaccio
Para Camesasca (1979 p. 38), nenhuma das inscrições parece ser autógrafa do mestre. Aguilar, por sua vez, inclui o quadro Paisagem com Camponesano seu catálogo como obra do mestre, sem contudo acrescentar nenhum comentário.
A composição não é comparável à perfeição construtiva das melhores obras de Corot, nem o tema é um de seus preferidos. Contudo, o pequeno quadro não carece de graça e de qualidade na representação da luz meridiana,
sugerindo um dia de primavera, e no espaço, definido singelamente pelo tronco da árvore e pela pequena figura da camponesa encurvada no seu trabalho de coleta de ervas.