As pinturas de Carmézia Emiliano retratam atividades cotidianas, festas, mitos e hábitos da nação macuxi, oriundas da região fronteiriça com a Venezuela e a Guiana, perto do monte Roraima. A profusão de detalhes
espelhados, intrincados e interconectados em suas obras ressaltam a dimensão do coletivo e sua confluência com a natureza e o entorno.
Parixaraé uma das obras comissionadas à artista para a mostra coletiva Histórias da dança. O termo é utilizado para designar um ritual de comemoração e agradecimento à natureza, de culto à caça e à colheita, e é um tema recorrente no repertório iconográfico de Emiliano. Na versão do MASP, a composição
organizada em diferentes registros é particularmente precisa e quase simétrica, e expressa também o movimento. Duas ocas com suas respectivas redes e duas árvores estão posicionadas no eixo central da parte superior
da pintura. As figuras ocupam o resto do campo pictórico em três fileiras sobrepostas e alternam a direção de sua dança-caminhada de uma para a outra. A repetição de módulos de indivíduos com o mesmo traje de palha e
seus bastões-instrumentos ornados de pequenas esculturas de animais e que adotam posições similares confere um ritmo visual à pintura evocando o compasso marcado dos cantos e o acompanhamento musical dessa prática.
Assim, tanto a dança ritual, como as escolhas formais de Emiliano para delineá-la, podem ser lidas a partir de uma cosmovisão na qual cada elemento é parte integrante de um todo harmônico, complementar e
interconectado.