Gainsborough é um dos protagonistas da pintura de paisagem que caracterizou a arte inglesa do século 18. Nasceu no pequeno povoado de Sudbury, no nordeste da Inglaterra, mas estudou em Londres e frequentou um ateliê
de gravura e a St Martin’s Lane Academy, precursora da Royal Academy. Depois desse período, Gainsborough mudou-se para Bath, um balneário frequentado pela elite, conquistando ali muitos compradores de suas obras. Em
Drinkstone Park (O bosque de Cornard?) ( circa1747), as nuvens carregadas tornam a luz difusa, iluminando igualmente os verdes e castanhos da paisagem. Na cena, um homem dorme na estrada, em meio ao bosque arborizado. A sua presença, contudo, é apenas um detalhe
em meio ao protagonismo da vegetação. Essa inversão temática do homem para a natureza era comum na linguagem da pintura de paisagem na Inglaterra naquele contexto; usavam-se caminhos curvos, áreas vazias, árvores e
bosques distribuídos sem simetria no quadro, de modo a interromper a vista completa da paisagem e criar a sensação de que o espectador está caminhando nesta paisagem. O título da obra mostra que há dúvida sobre o
lugar que a pintura representa: pode ser o bosque de
Cornard, que foi cenário de outras obras do artista, como a tela semelhante da coleção da National Gallery de Londres; ou pode ser o próprio Drinkstone Park, já que o dono do parque era proprietário desta tela.
Por Luciano Migliaccio
Waterhouse abre o capítulo de seu catálogo de 1958 dedicado a “Lanscapes of the earlier Suffolk period” com o quadro Drinkstone Park (O Bosque de Cornard ?), esclarecendo desde logo uma confusão sobre seu tema e título: “it is not, as usually stated a view of Drinkstone Park, but a free variation on a picture by J. Ruysdael (Louvre), of which Gainsborough made a chalk
copy” (p. 107, n. 826). Não obstante esta confusão, é de assinalar a coincidência de que a obra foi encomendada ou comprada no ateliê do artista por Joshua Grigby, o criador de
Drinkstone Park, que de resto posou em seguida para o artista (Camesasca 1988, p. 160).
A obra de Ruysdael em questão,
A Floresta,encontra-se em depósito no Musée de Douai, e o belo desenho, datado por Hayes de finais dos anos 4o, este efetivamente uma cópia exata do quadro, pertence à Whitworth Art Gallery, University of Manchester, na
Inglaterra (Woodall 1949, p. 26). No que se refere à obra do Masp, é certamente possível concordar com Waterhouse, à condição de entender aqui a noção de “variação livre” em seu sentido mais forte, isto é como
reelaboração a partir de alguns elementos da obra de Ruysdael, sendo a intermediação do desenho de Manchester já mediada por uma gravura, talvez de Geissler.
Hayes (1981, p. 182) considera que “este desenho elaborado de
A Florestaensinou-lhe muito, pois ele utilizou a bétula em várias de suas paisagens da época e sua composição como um todo está na base da mais acabada de suas primeiras obras, a tela conhecida pelo nome de
Floresta de Gainsborough(National Gallery, Londres), assim como no quadro em São Paulo”. A obra de Londres é também chamada O Bosque de Cornard, de modo que a obra do Masp pode representar um compromisso entre o modelo holandês e uma paisagem real. Tal razão induziu Camesasca a propor hipoteticamente um título alternativo à obra do Masp: O
Bosque de Cornard. Hayes (1982, p. 347) data a obra do Masp de 1747 por suas estreitas similitudes com o Rest by the Way do Philadelphia Museum of Art daquele ano, única obra datada por Gainsborough (Baetjer 1993, p. 104).Drinkstone Parké a maior paisagem pintada por Gainsborough até o período de Bath. Para Hayes, a execução é muito mais solta e madura que em todos os quadros anteriores, e, até 1763, data da paisagem de Worcester enviada pelo
artista à exposição da London Society of Artists, não há registro de outra obra sua com dimensões comparáveis. O tema da figura que dorme à beira da trilha encontra-se, em Gainsborough, apenas nessa obra e na de
Philadelphia e derivaria da influência de Berchem (Hayes 1981, p. 97). Uma cópia aproximadamente do mesmo tamanho, atribuída possivelmente a Francis Towne, encontra-se no Leicester Museums and Art Gallery. Camesasca
(1987, p. 146) nota que a estrutura do quadro está baseada, como é comum em Gainsborough quando jovem, em três “lugares” ou focos de atenção, e na retomada de motivos já utilizados em outras obras, derivados de
paisagistas flamengos, que o pintor gostava muito de imitar, como revela numa carta.
O retrato provém da coleção do reverendo Robert Bolton, que emigrou em 1836 para os Estados Unidos, aí construindo a Bolton Priory, em Pelham, no estado de Nova York em 1838. O
Retrato de Senhora John Boltonpassou por herança à filha do reverendo, Nanette Bolton, que o deixou a sua irmã, Adele, da qual passou à sobrinha Arabella J. Bolton e de cuja herança saiu para entrar no museu. Waterhouse data o quadro dos anos 70,
isto é, da fase em que Gainsborough consolidara já uma enorme clientela em Bath, desejosa de se fazer retratar durante sua estada de repouso na cidade. A obra foi emprestada de 13 de março a 11 de julho de 1912 ao
Metropolitan Museum of Art de Nova York.