Em sua obra, Alexandre da Cunha utiliza materiais encontrados em utensílios comuns, baratos e amplamente difundidos — como vassouras e desentupidores — para construir esculturas e instalações complexas, frequentemente com uma preocupação construtiva, baseadas nos preceitos da abstração geométrica, o que lhes confere uma certa ironia. Em Portal (Maison Tropicale), Da Cunha se apropria de um modelo de bandeja comum em restaurantes populares e universitários — os bandejões. Com um desenho industrial bem padronizado e identificável, nelas os alimentos podem ser servidos separadamente em compartimentos formados pelas cavidades no inox. Na obra de Da Cunha, observa-se frontalmente a composição dessas peças, que aglutinadas lado a lado criam um mosaico de formas geométricas. A justaposição dos furos em que normalmente se encaixam os copos nas bandejas remete à arquitetura da Maison Tropicale [Casa Tropical], projeto de residências pré-fabricadas dos irmãos e arquitetos franceses Jean (1901-1984) e Henri Prouvé (1915-2012). Construídas em Niamei, Níger, e em Brazzaville, Congo, entre 1949 e 1951, essas casas ventiladas por orifícios circulares seriam replicadas pelo continente africano, especialmente nas ex-colônias francesas. O projeto foi suspenso por seu elevado custo, e as poucas casas construídas acabaram removidas de seu local de origem para circularem em exposições na França e nos EUA nos anos 2000. A partir dessas referências e objetos, Da Cunha cria uma espécie de biombo, ou portal, uma estrutura autoportante que no Acervo em transformação do MASP dialoga com os icônicos cavaletes de vidro de Lina Bo Bardi (1914-1992). Enquanto Portal, o trabalho indica conexões, comparações e deslocamentos de objetos e contextos, do design do bandejão universitário à casa pré-fabricada, um projeto modernista de arquitetos franceses na África, agora transformada em escultura no museu.
— Guilherme Giufrida, curador assistente, MASP, 2021