MASP

Francisco Goya y Lucientes

Retrato de don Juan Antonio Llorente, 1809-13

  • Autor:
    Francisco Goya y Lucientes
  • Dados biográficos:
    Fuendetodos, Espanha, 1746-Bordeaux, França ,1828
  • Título:
    Retrato de don Juan Antonio Llorente
  • Data da obra:
    1809-13
  • Técnica:
    Óleo sobre tela
  • Dimensões:
    191 x 114 x 2,5 cm
  • Aquisição:
    Doação Antônio Sanchez Galdeano, 1958
  • Designação:
    Pintura
  • Número de inventário:
    MASP.00176
  • Créditos da fotografia:
    João Musa

TEXTOS



Em 1774, Goya fez alguns desenhos sobre a vida do povo para tapeçarias da corte de Madri. Esses trabalhos foram o ponto de partida da rápida carreira do artista, que caiu no gosto da aristocracia espanhola. Ao mesmo tempo em que pintava retratos das elites locais, Goya produzia, em paralelo, séries sarcásticas e caricaturais, que refletiam os horrores do seu tempo. O artista alcançou os mais altos postos acadêmicos, como a diretoria da Real Academia de Bellas Artes de San Fernando, e a posição de pintor de câmara do rei Carlos IV (1748-1819), em 1789. Em decorrência da surdez, causada por uma doença, Goya abandonou ambos os cargos em 1797. No Retrato de Don Juan Antonio Llorente (1809-13), a empatia entre o pintor e o modelo é evidente, como indicam o cenário e a expressão informal no rosto. Goya e Llorente eram amigos e o modelo chegou a escrever sobre a série de gravuras Caprichos (1797-98), do artista. Ao mesmo tempo que representava, como secretário, a Inquisição católica na Espanha, Llorente era um entusiasta da Revolução Francesa (1789) e das ideias liberais da época. Quer dizer: contraditoriamente, ele era a favor de um modelo de sociedade que permitisse garantias sociais e liberdades individuais, mas atuava na Inquisição. Em 1800, acolheu o monarca francês José Bonaparte (1768-1844) em Madri, em meio à Guerra Peninsular (1807-14), quando a França dominou a Espanha. Para marcar sua adesão ao bonapartismo, foi nomeado pela recém criada Orden Real de España, cujo brasão (chamado sarcasticamente pelos espanhóis de “La Berenjena” [a berinjela]) pode-se ver pintado em seu peito.

— Equipe curatorial MASP





Don Juan Antonio Llorente nasceu em Rincón de Soto, em 1756. Sua carreira eclesiástica, precoce como jesuíta, trouxe-lhe inicialmente o título de canônico de Toledo e posteriormente o cargo de secretário da Inquisição. Imbuído de idéias liberais e fervoroso admirador da Revolução Francesa, Llorente dispõe-se desde 1794, aparentemente com o apoio de Godoy e de Jovellanos, a empreender uma profunda reforma no Santo Ofício, desafio que lhe custou ulteriores perseguições quando essas duas estrelas maiores do reinado de Fernando VII caíram em desgraça. Em 1808, Llorente acolhe José Bonaparte como um libertador. O novo governante confere-lhe então a Orden Real de España, por ele criada em 1809 e que se vê no retrato, e nomeia-o Membro do Conselho de Estado e Arquivista e Historiador da Inquisição. Llorente foi obrigado a exilar-se na França com a partida dos franceses da Espanha em 1812. Os anos de exílio foram fecundos, sobretudo por ser os da redação de sua autobiografia (Paris, 1816), bem como de várias outras obras, dentre as quais se destaca a monumental História Crítica da Inquisição na Espanha, escrita em francês e publicada em 1817, após acuradas pesquisas de arquivo realizadas graças às provisórias abolições eclesiásticas. Llorente permanece em Paris até as vésperas de sua morte, ocorrida em Madri, em 25 de fevereiro de 1823. A insígnia com a Orden Real de España, chamada sarcasticamente pelos espanhóis de “a berinjela”, por sua cor, significava uma ostensiva adesão ao bonapartismo, justificada longamente em sua autobiografia (1816). É evidente enfim no Retrato Don Juan Antonio Llorente, considerado por De Angelis como “um dos mais intensos de Goya”, a empatia entre o pintor e o retratado: Llorente era amigo de Goya e até mesmo escreveu comentários sobre a série denominada Caprichos. O estudo de valores no lenço da mão de Llorente é um detalhe de impressionante audácia, que confirma o julgamento de De Angelis, já manifestado por Von Loga e Gudiol.

— Autoria desconhecida, 1998

Fonte: Luiz Marques (org.), Catálogo do Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand, São Paulo: MASP, 1998. (reedição, 2008).



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