No período que viveu no Brasil, entre 1936 e 1945, Ernesto de Fiori morou no centro de São Paulo, local que retratou em várias de suas pinturas. Em São Paulo, cena de rua (1942) o pintor registra um flagrante da vida pública na capital paulista, que já apresentava naquele tempo intensa vida social urbana. Na cena — que parece ocorrer ao cair da tarde — há quatro personagens: duas mulheres vestidas elegantemente, de costas, caminham sobre a rua; na calçada oposta, dois homens aparecem pintados como vultos. Veem-se ao fundo casarões de arquitetura eclética, mas, provavelmente devido à rápida transformação da cidade no período subsequente, não se reconhece ao certo onde a cena acontece. Em suas pinturas — calcadas no desenho de observação —, De Fiori joga com o imprevisto por meio do uso de pincéis cheios de tinta. Notam-se as pinceladas grossas, ligeiras, que mudam de ritmo e de direção. São percebidas, ainda, partes sem pintar, flertando com o inacabado. Essa pincelada expressionista, enérgica, ganha também colorações vivas — violetas, azuis e verdes —, imprimindo fluidez e leveza à composição. Chama a atenção a disposição teatral do quadro: enquadramento simétrico, planos de ação sobrepostos e fundo como cenário (edificações e árvores). Os personagens principais da pintura, os transeuntes, são representados por uma pincelada que imprime movimento à composição, fazendo ressoar os aspectos temáticos e formais da obra.
— Guilherme Giufrida, assistente curatorial, MASP, 2018