Nascido em uma família abastada, Arthur Luiz Piza viveu por vários períodos da sua vida em Paris. Foi influenciado pelas técnicas gestuais do tachismo e pela ordenação rigorosa do construtivismo. Na década de 1960, o
artista começou a picotar suas aquarelas, usando os fragmentos em colagens sobre diferentes tipos de suporte. No final da década de 1970 e início da década de 1980, criou um grupo de obras chamadas de “capachos”, do
qual
Sem título(1982) faz parte. Trata-se de pequenas placas quadradas em metal preto conectadas sobre uma superfície de capacho em sisal (fibra natural) pintada com tinta acrílica cinza. Piza constrói o trabalho a partir de vários
fragmentos retangulares negros, que se contrapõem ao pontilhado mais claro ao fundo, criando um jogo entre as duas texturas. Um corpo abstrato de células salta sobre o espaço delimitado pela caixa acrílica que
emoldura o trabalho, aglomerando-se em uma trama tridimensional e saturada. Esses fragmentos parecem querer se soltar do plano bidimensional, como partes de um mosaico que se desfez. A pesquisa de Piza também é de
ordem óptica, verificada na variabilidade das sombras desses fragmentos e da fibra do sisal em relação à iluminação dos ambientes, criando diferentes ritmos e contrastes de tons de cinza no trabalho. Há também,
nesses relevos, marca da obra de Piza, a tensão de uma vontade de ordem que, no entanto, não se concretiza. Embora contenham algo que remete à seriação e à repetição, as pequenas partículas, irregulares, combinam-se
e coexistem em variadas direções.