O artista Ibã Huni Kuin usa o desenho para traduzir visualmente os cantos de seu povo, considerados uma forma de cura e de transmissão de conhecimento. Os looks produzidos em parceria com o estilista Ronaldo Fraga no contexto da primeira temporada do projeto MASP Renner, que convida artistas e estilistas a colaborarem realizando looks incorporados ao acervo do Museu, lidam com elementos de desenhos do artista, alguns feitos com outros integrantes do coletivo Mahku (Movimento dos Artistas Huni Kuin) e todos parte do acervo do MASP. Em túnicas de algodão cru, figuras e padrões geométricos foram bordados em richelieu, uma técnica que une áreas de tecido recortado com padrões lineares. Os bordados foram feitos por uma comunidade atingida pelo crime de Mariana, uma avalanche de metais pesados causada pela indústria mineradora em Minas Gerais, em 2015, e que se reinventou a partir do uso dessa prática. Sem título é um vestido de estrutura triangular, mangas soltas e decote quadrado. Em contraste com a geometria da modelagem e dos padrões triangulares e de folhagens na barra, uma jiboia de formas sinuosas–símbolo de força vital para os Huni Kuin–percorre o busto, as costas, até voltar para a frente, onde está pousada a cabeça.
— Leandro Muniz, assistente curatorial, MASP, 2022
