MASP

Caetano de Almeida

Sem título, 1979-2019

  • Autor:
    Caetano de Almeida
  • Dados biográficos:
    Campinas, São Paulo, Brasil, 1964
  • Título:
    Sem título
  • Data da obra:
    1979-2019
  • Técnica:
    Acrilica sobre madeira
  • Dimensões:
    143,5 x 123,5 x 7 cm
  • Aquisição:
    Doação do artista, 2020
  • Designação:
    Pintura
  • Número de inventário:
    MASP.11131
  • Créditos da fotografia:
    Eduardo Ortega

TEXTOS



Caetano de Almeida é muitas vezes contextualizado com os pintores dos anos 1980 — como Leda Catunda, Beatriz Milhazes, Luiz Zerbini — porém, como eles, é nas décadas seguintes que sua obra ganhará complexidade. De Almeida tem interesse especial na história da pintura, mas seus flertes com ela têm certa irreverência, ainda que com implicações conceituais. Sem título (1979-2019) é um trabalho verdadeiramente único do artista. Trata-se de um pedaço de madeira, um tampo de prancheta, que acompanhou o artista em seu ateliê durante 40 anos, daí sua datação estendida. No processo, muitas camadas de vários tipos de tinta escorreram ou respingaram sobre a superfície, resultando num palimpsesto que tem algo de biográfico. A mais forte tradição da pintura paulistana moderna é a do concretismo, com seus rigorosos preceitos cromáticos e geométricos, que por sua vez conecta-se com o emblema da grade (ou grelha, trama), mito da pintura moderna. De Almeida alude a essa rica história, porém incorpora o que pode ser visto como seu contrário: o respingo, o escorrido — que por sua vez remete ao dripping (gotejamento) de Jackson Pollock (1912-1956), o estadunidense que é um expoente do expressionismo abstrato, espécie de antítese da abstração geométrica. Assim é que os gotejamentos e respingos de De Almeida tornam-se linhas que escorrem livre e calculadamente pelas telas. Sem título carrega toda essa carga da história da arte, mas também do acaso e da história pessoal do artista — uma espécie de bildungsroman (romance de formação) pictórico. Aos 15 anos ele ganhou de seu pai a prancheta, quando começou a trabalhar como desenhista de arquitetura, que o acompanhou ao longo de seu amadurecimento como artista. Ao final, ele meramente deslocou a função do objeto encontrado no ateliê— de utilitário no estúdio para obra na moldura dourada — e para tanto escolheu deliberada e ironicamente suas novas vestes (em ouro) para destacar seu novo estatuto: uma obra síntese na trajetória do artista.

— Adriano Pedrosa, diretor artístico, MASP, 2021

Fonte: Instagram @masp 24.01.2021




Por Adriano Pedrosa
O artista paulista Caetano de Almeida tem interesse especial na história da pintura, mas seus flertes com ela têm certa irreverência, ainda que com implicações conceituais. Nesse sentido, Sem título (1979-2019), do acervo do MASP, é um trabalho verdadeiramente único do artista. Trata-se de um pedaço de madeira, um tampo de prancheta, que acompanhou o artista em seu ateliê durante 40 anos, daí sua datação estendida. Aos 15 anos, quando começou a trabalhar como desenhista de arquitetura, De Almeida ganhou de seu pai a prancheta que o acompanhou ao longo de seu amadurecimento profissional. No processo, muitas camadas de vários tipos de tinta escorreram ou respingaram sobre a superfície, resultando numa espécie de palimpsesto—manuscrito em pergaminho que, após ser raspado e polido (prática usual da Idade Média), era novamente aproveitado para a escrita de outros textos. Ao final, ele meramente deslocou a função do objeto encontrado no ateliê—de utilitário no estúdio para obra na moldura dourada—e para tanto escolheu deliberada e ironicamente suas novas vestes (em ouro) para destacar seu novo estatuto: uma obra síntese na trajetória do artista. A mais forte tradição da pintura paulistana moderna é a do concretismo, com seus rigorosos preceitos cromáticos e geométricos, que por sua vez conecta-se com o emblema da grade (ou grelha, trama), mito da pintura moderna. De Almeida alude a essa rica história, porém incorpora o que pode ser visto como seu contrário: o respingo, o escorrido—que por sua vez remete ao dripping (gotejamento) de Jackson Pollock (1912-1956), o estadunidense que é um expoente do expressionismo abstrato, espécie de antítese da abstração geométrica. Assim é que os gotejamentos e respingos de De Almeida tornam-se linhas que escorrem livre e calculadamente pelas telas.

— Adriano Pedrosa, diretor artístico, MASP, 2021



Pesquise
no Acervo

Filtre sua busca