A artista Aline Motta (Niteroi, 1974) trabalha com desenho, escrita, performance, fotografia e vídeo, tomando a história de sua família como estudo de caso da formação social brasileira, com seus apagamentos, violências e resistências. Na trilogia de vídeos aqui composta por Pontes sobre abismos (2017), Se o mar tivesse varandas (2017) e (Outros) Fundamentos (2017-2019), arquivos pessoais, documentos oficiais e relatos orais são embaralhados e confrontados com filmagens realizadas em Cachoeira, na Bahia, Lagos, na Nigéria, Berlim, na Alemanha, além de diferentes regiões no Rio de Janeiro, em Minas Gerais, em Portugal e em Serra Leoa.
Em Pontes sobre abismos e em Se o mar tivesse varandas, fotografias e documentos do arquivo de família de Aline Motta são reproduzidos em tecido e em papel, submersos em água ou expostos ao vento em diferentes lugares pelos quais a artista passou em suas viagens. (Outros) Fundamentos é atravessado por um espelho que sugere as conexões culturais entre Lagos, Cachoeira e o Rio de Janeiro, além de cenas urbanas, religiosas e de espaços domésticos. Ambos os vídeos são compostos por montagens fragmentadas, formando uma narrativa sem começo, meio ou fim, e são projetados em três telas. Narrados em múltiplas temporalidades, os trabalhos estabelecem conexões entre o passado e o presente, bem como projeções para o futuro. Em uma abordagem interseccional sobre questões de gênero, raça e classe, a trilogia de vídeos de Motta entrelaça narrativas públicas e privadas.
A imagem das águas está presente em toda a trilogia e alude às cosmologias Congo-Angola, nas quais a noção de “Kalunga” é uma linha tênue que separa as dimensões dos vivos e dos mortos. Fotografias e cosmogramas são repetidos em diferentes momentos dos vídeos, assim como por toda a prática da artista, em um trabalho incessante de reelaboração e ressignificação dessas histórias.
Descendente de negros e brancos, Motta busca compreender como a história é narrada, em especial aquilo que é omitido ou reprimido e que ela recupera por meio da pesquisa e da especulação. Utilizando a ficção e a poesia, a artista questiona as relações entre violências estruturais, apagamentos históricos e a preservação da memória.
Sala de Vídeo: Aline Motta é curada por Leandro Muniz, assistente curatorial, MASP.
Ao longo de 2021 e 2022, a programação da Sala de Vídeo integra o ciclo das Histórias brasileiras no MASP e, em 2022, inclui trabalhos de Letícia Parente, Tamar Guimarães, Melanie Smith, Bárbara Wagner & Benjamin de Burca e Aline Motta.
Aline Motta
Niteroi (RJ), 1974, vive e trabalha em São Paulo
Pontes sobre abismos, 2017
Vídeo 08’29”
Fotografia: Aline Motta
Câmera adicional: Bruno Elisabetsky
Edição: Fernando Lima
Videografismo e finalização: Rafael Longo
Captação e edição de som: Bruno Elisabetsky
Correção de cor: Caetano Brenga Bitencourt
Trilha sonora: Aline Motta e Bruno Elisabetsky
Músico convidado: Ari Colares
Pesquisa: Aline Motta
Pesquisa genealógica: Aline Motta e Marcos Machado
Se o mar tivesse varandas, 2017
Vídeo 09’11”
Fotografia: Aline Motta
Câmera adicional: Bruno Elisabetsky
Edição: Aline Motta e Fernando Lima
Paisagem sonora: Bruno Elisabetsky
Drone: Fernando Bastos
Correção de cor: Caetano Brenga Bitencourt
(Outros) Fundamentos, 2017–19
Vídeo 15’48”
Fotografia, direção, roteiro, edição, concepção da trilha sonora: Aline Motta
Câmera adicional (imagens Rio de Janeiro): Danilo do Carmo
Estúdio de gravação e mixagem: Ori Lab (Caê Rolfsen e Bruno Prado)
Músico: Bruno Prado
Trilha sonora adicional (“Ogum”): Bruno Prado
Cantora convidada: Lenna Bahule
Produção musical e edição de som: Pedro Santiago
Finalização e correção de cor: Caetano Brenga Bitencourt
Participações especiais:
Joceane Soares, Jamiu Jimoh, Ajarat Jimoh, Jani e ShoyumI
Agradecimentos da artista:
Alusine Kamara, Alhaji Mustapha Koker, Ansu, Joseph Koroma, Claudia Mamede, José Luiz
Júnior, IPHAN Mariana/Minas Gerais, Arquivo Eclesiástico da Arquidiocese de Mariana/ Minas Gerais,
IPHAN Vassouras/Rio de Janeiro, Centro de Documentação Histórica Paroquial/ Paróquia de
Nossa Senhora da Conceição – Vassouras/Rio de Janeiro/ Diocese
de Valença/ Rio de Janeiro, Padre José Antônio, Família Elisabetsky