MASP

SALA DE VÍDEO: ZAHY GUAJAJARA

27.8—28.11.2021
Mulher indígena, multiartista, nascida na aldeia Colônia, na Reserva Indígena Cana Brava, no Maranhão. Vivi em meio à arte desde muito cedo, e compartilhar esse crescimento é o que permeia meu trabalho. Eu me considero fugitiva do comum e em busca do que é original, do que é capaz de atravessar fronteiras. São muitas as minhas linguagens: o que me interessa é comunicar. Acredito que a arte tem esse superpoder de comunicar e transformar, por isso me expresso por meio dela. Minha primeira língua é o Ze’eng Eté (“fala boa/verdadeira”), dialeto do tronco tupi-guarani; minha segunda língua é o português.

A vídeo-instalação aqui apresentada reúne duas artes rituais realizadas em colaboração com Mariana Villas Boas, que dirigiu ambos os vídeos. O primeiro vídeo, Aiku’è zepé [Ainda r-existo], é um projeto que nasceu da necessidade de manifestar as inquietações enquanto corpo e mulher indígena que luta para sobreviver ao caos deixado pela “civilização”. A narrativa emerge da terra, representando o nascimento de um ser genuíno em simbiose com a natureza; corpo e natureza como seres indissociáveis que passarão por um processo de busca de identidade. A pintura indígena simboliza a primeira identidade, a ancestralidade. Esse processo é interrompido pela negação da origem, sendo arrancado com brutalidade para dar lugar a uma nova identidade que é representada pela pintura ocidental. Essa pintura ocidental simboliza a castração sofrida pelo indígena na tentativa de inseri-lo na sociedade, “civilizá-lo”. Em um movimento cíclico e delicado, acontece o retorno à terra, o resgate e conexão com a natureza – a luta pela inclusão indígena na sociedade sem abrir mão da ancestralidade. 

O segundo vídeo, Pytuhem – Uma carta em defesa dos Guardiões da Floresta, sugere uma continuidade a Aiku’è zepé com foco na identidade que me foi imposta. Por meio da minha trajetória de vida, conto a luta dos povos indígenas por “r-existência”, convidando vocês a conhecer nossa história. Pytuhem [Respirar]: é uma carta que denuncia o que está acontecendo com os Guardiões da Floresta, um grupo de Guajajaras que luta pela preservação da floresta, do seu povo, ancestralidade e identidade. Os Guardiões da Floresta em Araribóia, Maranhão, protegem também seus parentes Awá Guajá, indígenas que vivem completamente isolados, sem contato com a civilização. R-existir é a única possibilidade de existir. –– Zahy Guajajara

Ao longo de 2021 e de 2022, a programação da Sala de Vídeo integra o ciclo das Histórias brasileiras no MASP, e neste primeiro ano inclui trabalhos de Ana Pi, Teto Preto, Regina Vater, Zahy Guajajara e Dominique Gonzalez-Foerster. 

CURADORIA  Adriano Pedrosa, diretor artístico, MASP