O curso abre com um debate sobre o filme Les statues meurent aussi de Chris Marker, Alain Resnais e Ghislain Cloquet. Realizado com o apoio da revista Présence Africaine, em 1953. Aqui, o filme servirá como ponto de partida para explorarmos as diversas questões que atravessam a produção artística africana abordadas ao longo curso. Entre elas, a própria noção de“arte africana” ou “artes negras” (arts nègres), e suas formas de exibição dentro e fora da África. Além disso, discutiremos sua relação com o campo da etnografia e os enquadramentos herdados do colonialismo, os modernismos e os contextos políticos da África pós-independência(s), a emergência de novas formas de exibição e narrativas no contexto da diáspora.
A experiência da descolonização em diversos países africanos ocorre em estreito diálogo com o campo das artes visuais. No Senegal, os vinte anos nos quais o poeta Léopold Sendar Senghor (1960-80) esteve no poder levaram a criação de diversos equipamentos culturais e permitiram o surgimento de movimentos com a Escola de Dacar, da qual emergem artistas como Iba N'Diaye e Papa Iba Tall.. Nesse contexto, três festivais culturais organizados em Dacar (Senegal), Kinshasa (Congo) e Lagos (Nigéria), marcam os debates panafricanistas que ganham força no contexto da diáspora, tornando-se palco de uma produção artística associada a um amplo debate político sobre o continente em transformação.
A terceira aula do curso será dedicada a produção artística africana realizada entre os anos 1980 e 2000. Aqui, exploraremos diversas obras em relação aos seus contextos sociais e políticos, como: a censura e a crítica colonialista no cinema de Ousmane Sembene, a transição do apartheid na África do Sul no trabalho de Sue Williamson e William Kentridge, a noção de raça e história na obra de Godfried Donkor, entre outros. Analisaremos como essa produção passa a ocupar um papel de relevância no cenário da arte global, quando o campo passa por importantes revisões à luz da teoria pós-colonial
Na última aula do curso, iremos investigar como os contextos expositivos em que a produção africana é exibida afetam sua recepção dentro e fora da África. De Primitivism in the 20th Century (1984), Africa Explores (1991), passando por Authentic/Ex-centric (2001), Africa Remix (2003), até as diversas edições da Bienal de Dacar, iremos estudar uma série de exposiçõesde arte africana que contribuíram para a emergência de novos discursos e enquadramentos acerca dessa produção. No contexto brasileiro, abordaremos a mostra África Negra, exibida no MASP e concebida por Lina Bo Bardi e Pierre Verger na ocasião do centenário da abolição, em 1988, o segmento dedicado a “arte afro-brasileira” na Mostra do Redescobrimento (2000), entre outras
Sabrina Moura é curadora e pesquisadora. Doutoranda no departamento de História da Unicamp, onde realiza pesquisa sobre as políticas culturais que levaram a criação das bienais de Havana e Dacar, entre os anos 1980 e 2000. Possui mestrado em Estética e História da Arte pela Universidade Paris VIII e mestrado em direção de projetos culturais pela Universidade Paris III Sorbonne Nouvelle. Concebeu programas públicos em instituições como Videobrasil, SESC-SP, Goethe Institut, World Biennial Forum, entre outras. Em 2015, organizou o livro Panoramas do Sul: Perspectivas para outras geografias do pensamento (Edições SESC-SP, Videobrasil). Foi membro do comitê de seleção da edição de 2015 do AIMIA Photography Prize (Art Gallery of Ontario). Em 2016, foi pesquisadora visitante no Instituto de Estudos Africanos da Universidade de Columbia, com bolsa do Programa Connecting Art Histories da Getty Foundation/Unicamp.