MASP

O CORPO UTÓPICO: MODA, GÊNEROS E SEXUALIDADES

Horário
19h – 21h30
Duração do Módulo
ONLINE
8, 9, 10, 15, 16 E 17.2.2022
TERÇAS, QUARTAS E QUINTAS
(6 AULAS)
Investimento

PÚBLICO GERAL
5X R$ 57,60
AMIGO MASP
5X R$ 48,96
*valores parcelados no cartão de crédito

Professores
BRUNNO ALMEIDA MAIA

O objetivo deste curso é expor e refletir criticamente sobre o conceito de moda, suas características sociais, políticas, culturais e econômicas entrelaçadas com a noção de corpo, identidades e expressões de gêneros e as sexualidades - do século 15 ao contemporâneo.
Partindo de uma constelação de teóricos e escritores, a atividade relaciona tais perspectivas filosóficas, sociológicas e históricas com nomes de vanguardas artísticas e literárias, como Virginia Woolf, Marcel Proust e Georges Bataille, passando pelo movimento cubista, o surrealismo francês e os futuristas na moda das décadas de 1960 e 1990.
Em um primeiro momento, trata-se de conceituar a emergência da moda enquanto organização social da aparência e do gosto, relacionada com a constituição da personalidade aparente do indivíduo, para a partir daí se pensar a relação entre as formas da vestimenta no processo de subjetivação dos corpos, das identidades e expressões de gêneros.
Num segundo momento, essas questões serão abordadas em tópicos como a emancipação da burguesia e a generificação das vestimentas; a criação de uma cultura da feminilidade; o dandismo como movimento de revolta estético-político no século 19 e a modernização do guarda-roupa feminino pelos criadores de moda modernistas.
O último passo será refletir sobre as influências da teoria queer nas ressignificações dos corpos plurais e nas expressões de gêneros na moda atualmente.

IMPORTANTE
As aulas serão ministradas online por meio de uma plataforma de ensino ao vivo. O link será compartilhado com os alunos após a inscrição.
O curso é gravado e fica disponível durante 5 dias.
Os certificados serão emitidos para aqueles que completarem 75% de presença.

Planos de aulas

Aula 1 – 8.2.2022
Teoria e conceito de moda
Fenômeno específico das sociedades modernas, a moda emerge na cultura de corte entre os séculos 14 e 15 como “organização social da aparência”, do gosto e como nova percepção subjetiva e coletiva da noção do tempo transitório e efêmero. Nesse sentido, trata-se de investigar, a partir da filosofia, da história e da sociologia, as rupturas histórico-sociais que permitiram a origem do conceito de moda, suas principais características, a dialética entre o indivíduo e a sociedade na cultura da aparência (Georg Simmel), o consumir como constitutivo do sujeito e o consumo como meio da poética moderna.

Aula 2 – 9.2.2022
A historicidade do corpo na moda e na filosofia
A partir da conferência O corpo utópico de 1966 e do livro Vigiar e punir (1975), de Michel Foucault, poderão ser classificadas as diferenças propostas pelo filósofo entre a utopia e a heterotopia da corporeidade para historicizar o conceito de corpo nas filosofias que tematizaram o assunto, desde o diálogo O banquete de Platão, o racionalismo cartesiano, o “corpo que pensa” em Nietzsche, ao corpo sem órgãos em Gilles Deleuze. O objetivo, por fim, será compreender como a moda enquanto linguagem corporal, das formas (Bild) e dos gestus foi influenciada por essas estruturas de pensamento.

Aula 3 – 10.2.2022
Moda e expressões de gêneros na sociedade de corte, Maria Antonieta e a Revolução Francesa
Analisar como o romance_ Orlando_ (1928), de Virginia Woolf - que narrar a jornada de um lorde inglês que durante uma missão diplomática na Turquia do século 18 “simplesmente acordou mulher” - expõe não apenas a crítica de gêneros da escritora como tece um painel histórico da moda ao longo dos séculos. Contemporâneo ao período da “feminilização” de Orlando, a emergência do Iluminismo, e, posteriormente, o fim das leis suntuárias na Revolução Francesa, permitiram não somente a emancipação da burguesia como classe dominante, como causou uma reviravolta na cultura da aparência. Se na sociedade de corte prevalecia o caráter teatral e fantasioso das vestimentas dos nobres, confundindo as expressões de gêneros, a partir de 1789, as mulheres e os homens revolucionários definiram um “corte epistemológico no guarda-roupa”, isto é, a divisão de gêneros nas vestimentas que se prolongou até a modernidade burguesa e capitalista do século 19.

Aula 4 – 15.2.2022
Moda e modernidade: da condição social feminina ao dandismo como movimento de revolta
Durante a modernização da metrópole de Paris na sociedade burguesa capitalista do século 19, a moda se dividiu entre a alta-costura para a elite e as lojas de departamentos, as máquinas de costura caseiras e o primórdio da confecção industrializada para a classe trabalhadora. Nessa configuração, trata-se de expor como em uma sociedade dividida entre classes sociais, surge, também, a divisão sexual e de gêneros na organização social da aparência, com a mulher confinada à privatividade do lar e com roupas convergindo para a imobilidade do corpo, e o homem no espaço público se destacando pelo uso de vestimentas sóbrias que materializavam a razão e a mobilidade do corpo. Como contraponto, pela ótica do movimento estético-político e de revolta do dandismo (George Sand, Oscar Wilde, Charles Baudelaire e Beau Brummell), “anarquizou” as normas de gêneros expressas em suas vestimentas transformando-as em outros modos de vida.

Aula 5 – 16.2.2022
Modernismo na moda e nos corpos do século 20
Com a emergência da Belle Époque, costureiros como Paul Poiret, Coco Chanel, Jeanne Lanvin, Madeleine Vionnet e Jean Patou, transformaram o guarda-roupa feminino criando um movimento modernista na moda. Nesse aspecto, mesmo que lentamente, a representação da mulher na fotografia de moda dos anos 1920 começou a propor - pela via do estético no estilo à la garçonne - a emancipação da mulher na moda. À época, Elsa Schiaparelli, costureira ligada ao movimento surrealista francês, questionou as concepções de beleza, de corpo e de sexualidades a partir de um diálogo com a teoria da pulsão libidinal da psicanálise freudiana. Por último, será analisada a influência do modernismo nas coleções de Yves Saint Laurent na década de 1960, período da segunda onda do movimento feminista, e da reinvenção da silhueta feminina pela criação dos minivestidos e da minissaia.

Aula 6 – 17.2.2022
Moda: uma estética da existência
Na mesma década de publicação do livro inaugural da teoria queer, Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade (1990), de Judith Butler, a moda dos anos 1990 trouxe uma nova etapa na organização social da aparência, seja ressignificando os corpos, as noções de expressões de gêneros pelas vestimentas, como questionando os conceitos de belo, feio, natural e antinatural. Nas passarelas dos criadores japoneses e belgas surgiram outras leituras das identidades e formas do corpo ocidentalizado, questões já pontuadas pela filosofia e pelas vanguardas modernistas dos séculos 19 e 20, como em Nietzsche, na literatura de Georges Bataille, na pintura do cubismo de Pablo Picasso e nos objetos da fase surrealista de René Magritte. A noção de sujeito da experiência se transforma: de um eu estável e imóvel no tempo passamos ao eu que se cria na mobilidade, no existir. Dessa maneira, trata-se de investigar como a vestimenta de moda pode pluralizar os corpos, as identidades e expressões de gêneros, criando aquilo que Foucault conceituou como “estética da existência”.

Coordenação

Brunno Almeida Maia é pesquisador em filosofia pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), foi curador e pesquisador da exposição Ema e a moda no século XX – as roupas e a caligrafia dos gestos, na Casa Museu Ema Klabin, e residente do Núcleo de Estudos Contemporâneos do Museu da Imagem e do Som (NECMIS). É professor convidado do Istituto Europeo di Design (IED), de São Paulo, da Escola de Comunicação e Arte da Universidade de São Paulo (ECA-USP), do Senac Lapa, da Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP) e do Centro Universitário Belas Artes. É autor do livro O Teatro de Brunno Almeida Maia. Também assina capítulo sobre a relação entre a literatura e a moda no romance Lucíola (1862) de José de Alencar no livro Moda Vestimenta Corpo e é um dos autores da antologia São Paulo em Palavras. Foi facilitador pedagógico do módulo I de formação em Cidadania e Direitos Humanos do Programa Transcidadania. Atualmente trabalha em seu próximo livro Tempos de exceção: ensaios sobre o contemporâneo.

Conferencistas