Por Fernanda Lopes
Adoração (Altar a Roberto Carlos), 1966, é um marco dentro da produção de Nelson Leirner, que a partir daquele momento (1965/1966) deixa de lado o uso de procedimentos e materiais tradicionais da arte e se dedica definitivamente à apropriação de objetos encontrados especialmente no comércio popular, o uso do humor irônico, e a referência à cultura e à sociedade de massa, além de marcar o início da participação do público em suas obras. “Procuro na minha arte a liberdade que concretizo através de rompimentos, quebras de motivos e tradições. Rompimentos estes que não são somente meus, mas também obrigo o público a romper. O diálogo nas artes somente se dará através de atitudes”, explicou. A instalação se revela conforme a interação do espectador: ao passar pela catraca, dessas que controlavam a entrada de pagantes em cinemas e teatros, e ainda hoje podem ser vistas nos ônibus, é possível abrir a cortina de veludo vermelho, como em um espetáculo, onde as cortinas abrem-se para a apresentação do show. Lá dentro, um painel (que mais parece um altar) tem uma foto do jovem Roberto Carlos, centralizada e recoberta com luz de néon, circundada por doze imagens luminosas de santos católicos. As palavras “Adoração” e “Altar” no título evocam, em um sentido crítico e irônico, a atitude religiosa de aceitação sem questionamentos, seja dos dogmas católicos, seja dos ídolos da indústria cultural. Adoração (Altar a Roberto Carlos) foi apresentada pela primeira vez na exposição inaugural da Rex Gallery & Sons (espaço gerenciado pelo Grupo Rex, do qual Leirner fazia parte), em maio de 1966.
— Fernanda Lopes, 2022