MASP

Paolo Serafini da Modena

Adoração dos reis magos, 1351-75

  • Autor:
    Paolo Serafini da Modena
  • Dados biográficos:
    Módena, Itália, 1349-?
  • Título:
    Adoração dos reis magos
  • Data da obra:
    1351-75
  • Técnica:
    Têmpera sobre madeira
  • Dimensões:
    21,5 x 29 x 2 cm
  • Aquisição:
    Doação Pietro Maria Bardi, 1947
  • Designação:
    Pintura
  • Número de inventário:
    MASP.00005
  • Créditos da fotografia:
    João Musa

TEXTOS



A cena em Adoração dos Reis Magos tem sua fonte canônica apenas em Mateus 2, 1-12. Embora alusivo às profecias (Isaías 60, 6; Salmos, 72, 10), o relato evangélico, contudo, não fornece a maior parte dos elementos xados pela lenda e por sua iconograa, e notadamente a identidade dos reis magos, Gaspar, Baltasar e Melquior, sobre a qual não há consenso nas fontes. Casta sacerdotal dos medos, ou mais restritivamente, sacerdotes do culto masdeísta pré-zoroastriano dispersos pela Anatólia através da Caldéia, após as repressões religiosas de Xerxes, no século vi, os reis magos pertencem, segundo Heródoto, a uma das seis tribos dos medos, xada ao norte do atual Irã. Coube sobretudo a Plutarco, em De Isis et Osiris, a xação do caráter demonolátricoda sabedoria dos magos medos. O redator do texto de Mateus designava evidentemente nessas três personagens uma forma de reconhecimento, por parte da alta sapiência caldaico-mas deísta, do signicado do advento do “rei dos Judeus”, embora, como bem nota Cardini (1993, p. 14), a má reputação dos magusaioi, em particular entre os cristãos após o afrontamento entre Pedro e Simão, o que talvez explique por que o episódio narrado pelo primeiro evangelista não é retomado pelos demais. Assim, foi a literatura extracanônica, e sobretudo o Proto-Evangelho atribuído a Tiago Menor, (“irmão” de Cristo) e seu derivado, o Pseudo-Mateus, que alimentaram textualmente essa iconograa, abundante já desde os afrescos das catacumbas de Priscila, no século iii (Cardini 1993, pp. 16-19). Por suas dimensões e iconograa, a cena integrava originariamente, com toda a probabilidade, uma predella de um retábulo. Baseando-se provavelmente em certos reexos de cultura hispânica presentes em especial nos tipos sionômicos das guras principais, Bardi, desde 1947, atribuía esta graciosa têmpera ao pintor orentino-valenciano-toledano de nais do século XIV e início do século XV batizado por Sirén, em 1904, com o sugestivo nome de Maestro del Bambino Vispo e, desde Bellosi (1966), identicado como Gherardo Starnina (Florença, 1354-ante 1413). A atribuição de nosso fragmento de predella a este artista foi rejeitada de modo peremptórico tanto por Bellosi (comunicação oral, 18/1/1996) quanto por Boskovits (comunicação oral, 22/1/1996) e deve certamente ser abandonada. Que o Maestro del Bambino Vispo seja Starnina, como considera a quase totalidade da crítica hoje, explica bem a componente propriamente orentina deste artista, já notada por diversos estudiosos e recentemente por Waadenoijen (1983, p. 61), e inexistente em nosso fragmento de predella. De resto, as duas representações propostas por Starnina do tema da Adoração dos Magos, hoje nos museus de Kansas City e de Douai, dão claro testemunho de uma abordagem muito mais desenvolta e, em todo caso, de uma sensibilidade em relação ao tema já claramente quatrocentista, enquanto a obra do Masp pertence ainda ao terceiro quartel do Trezentos, como o atesta, para além de suas características de estilo, as vestes do “pajem” à esquerda da composição, inusual após aqueles anos (Bellosi 1974). A atribuição desta Adoração dos Magos a Serani por Boskovits, em 1975, foi conrmada agora pelo estudioso, que, na já mencionada comunicação oral, mantém todavia uma pequena margem de incerteza a respeito.

— Autoria desconhecida, 1998

Fonte: Luiz Marques (org.), Catálogo do Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand, São Paulo: MASP, 1998. (reedição, 2008).



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