Carmézia Emiliano é uma artista indígena macuxi, nascida na comunidade Maloca do Japó, em Roraima. Na década de 1990, mudou-se para Boa Vista, capital do estado, quando também começou a pintar. Suas telas figuram
paisagens, objetos da cultura material e o cotidiano de sua comunidade: "minha arte é um serviço que presto à cultura do meu povo, essa é maior de todas as felicidades", diz ela. Na tela
Aprendendo, é possível notar, ao centro, um grande telhado de sapé que abriga um grupo de alunos atentos a professora. Na lousa, afixada em uma parede de pau-a-pique, lê-se a tradução da palavra vovó, para o macuxi,
ko'ko'. O idioma é falado por cerca de 30 mil pessoas e constitui a mais populosa das línguas caribes. Ao redor, no entanto, observa-se a organicidade com que se dá a transmissão de saberes, além da estrutura
escolar. Pessoas de diferentes idades aprendem as técnicas de fiar algodão e tecer, produzir cerâmica, bem como trançar fibras naturais para a realização de objetos diversos, como espremedor de mandioca, cestaria e
redes de dormir. O chão de terra batida ocupa parte significativa do quadro e abriga a vida comunitária, bastante coletiva. Nota-se que a linha do horizonte é deslocada para cima e possui três faixas de cor, todas
representando elementos da natureza: o planalto verde que antecede as montanhas, em marrom, e uma pequena faixa de céu sem nuvens e sem a chuva tão característica da região. A obra foi concebida especialmente para o
projeto
Art School[Escola de Arte], uma parceria entre o MASP e o Afterall, centro de pesquisa e publicação da University of the Arts de Londres, que investiga trabalhos que de algum modo se relacionam com o conhecimento, a escola e o
aprendizado, produzindo novas leituras sobre eles, a partir de uma rede diversa, mas interconectada de histórias e geografias.