MASP

Carmézia Emiliano

Aprendendo, 2020

  • Autor:
    Carmézia Emiliano
  • Dados biográficos:
    Maloca do Japó, Terra Indígena Raposa Serra do Sol, Normandia, Roraima, Brasil, 1960
  • Título:
    Aprendendo
  • Data da obra:
    2020
  • Técnica:
    Óleo sobre tela
  • Dimensões:
    60 x 70 cm
  • Aquisição:
    Doação da artista, 2021
  • Designação:
    Pintura
  • Número de inventário:
    MASP.11160
  • Créditos da fotografia:
    Eduardo Ortega

TEXTOS



Carmézia Emiliano é uma artista indígena macuxi, nascida na comunidade Maloca do Japó, em Roraima. Na década de 1990, mudou-se para Boa Vista, capital do estado, quando também começou a pintar. Suas telas figuram paisagens, objetos da cultura material e o cotidiano de sua comunidade: "minha arte é um serviço que presto à cultura do meu povo, essa é maior de todas as felicidades", diz ela. Na tela Aprendendo, é possível notar, ao centro, um grande telhado de sapé que abriga um grupo de alunos atentos a professora. Na lousa, afixada em uma parede de pau-a-pique, lê-se a tradução da palavra vovó, para o macuxi, ko'ko'. O idioma é falado por cerca de 30 mil pessoas e constitui a mais populosa das línguas caribes. Ao redor, no entanto, observa-se a organicidade com que se dá a transmissão de saberes, além da estrutura escolar. Pessoas de diferentes idades aprendem as técnicas de fiar algodão e tecer, produzir cerâmica, bem como trançar fibras naturais para a realização de objetos diversos, como espremedor de mandioca, cestaria e redes de dormir. O chão de terra batida ocupa parte significativa do quadro e abriga a vida comunitária, bastante coletiva. Nota-se que a linha do horizonte é deslocada para cima e possui três faixas de cor, todas representando elementos da natureza: o planalto verde que antecede as montanhas, em marrom, e uma pequena faixa de céu sem nuvens e sem a chuva tão característica da região. A obra foi concebida especialmente para o projeto Art School [Escola de Arte], uma parceria entre o MASP e o Afterall, centro de pesquisa e publicação da University of the Arts de Londres, que investiga trabalhos que de algum modo se relacionam com o conhecimento, a escola e o aprendizado, produzindo novas leituras sobre eles, a partir de uma rede diversa, mas interconectada de histórias e geografias.

— Amanda Carneiro, curadora assistente, MASP, 2021

Fonte: Instagram @masp 30.05.2021




Por Amanda Carneiro
Carmézia Emiliano é uma artista indígena macuxi, nascida na comunidade Maloca do Japó, em Roraima. Na década de 1990, mudou-se para Boa Vista, capital do estado, quando começou a pintar. Suas telas figuram paisagens, objetos da cultura e cenas cotidianas de sua comunidade. Na tela Aprendendo um grande telhado de sapé abriga um grupo de alunos atentos à professora. Na lousa, afixada em uma parede de pau-a-pique, lê-se a tradução da palavra vovó, para o macuxi, ko’ko’. Ao redor, observa-se a organicidade com que se dá a transmissão de saberes, além da estrutura escolar. Pessoas de diferentes idades aprendem técnicas de fiar algodão e tecer, produzir cerâmica, bem como trançar fibras naturais para a realização de objetos diversos, como espremedor de mandioca, cestaria e redes de dormir. O chão de terra batida ocupa boa parte do quadro e abriga a vida comunitária. A segunda tela chama-se Parixara, termo utilizado para designar um ritual de comemoração e agradecimento à natureza, de culto à caça e à colheita. Nesta pintura, a composição é bastante estruturada, precisa, quase simétrica, expressando movimento. Duas ocas com suas respectivas redes e duas árvores estão posicionadas no eixo central da parte superior da pintura. As figuras ocupam o resto do campo pictórico em três fileiras sobrepostas e alternam a direção de sua dança-caminhada de uma para a outra. A repetição de módulos de indivíduos com o mesmo traje de palha e seus bastões-instrumentos—ornados de pequenas esculturas de animais e que adotam posições similares—confere um ritmo visual à pintura, evocando o compasso marcado dos cantos e o acompanhamento musical dessa prática.

— Amanda Carneiro, curadora assistente, MASP, 2021




Por Kássia Borges Karajá
Com a chegada do colonizador nas terras dos povos originários, fez-se necessário entender a língua e a cultura do invasor. Na tela Aprendendo, da artista macuxi Carmézia Emiliano, do acervo do MASP, os bancos escolares parecem fora da geometria, mas não faltam montanhas ao fundo e proporção entre os elementos. A arte indígena tem outras motivações e recursos que certamente precisam ser notados e interpretados desde o reconhecimento de que os indígenas também transitam pelos meios comuns da semiótica e não são ingênuos como a história da arte faz parecer. Por exemplo, a cor da terracota invade a tela a partir do material da cerâmica e não por falta de pigmentos diferentes, mas por ser a cor da terra do território Macuxi, ao qual pertence a artista Carmézia. A escola parece descer de paraquedas sobre um cenário de gente agindo em grupo, sem hierarquia de sexo ou idade: o saber formalizado da escrita se imiscuiu no pátio da aldeia, a blusa cobrindo o tronco das crianças afasta o olhar curioso do espectador. Há muitos signos ocultos, que o forasteiro talvez não entenda, como os recursos da indústria alimentícia e têxtil dos macuxi representados por Carmézia, mas ela parece ironizar ao incluir signos que o expectador decerto conhece bem, como as letras para representar palavras em duas línguas: vovó/kokó. Uma mulher indígena sabe sobre transmissão de saberes de seu povo: não há um momento específico de aprender, já que ele se faz todos os dias e a qualquer hora. Os artistas indígenas contemporâneos se fazem ver por uma outra estética que se pauta por reabrir o mundo, coabitá-lo e não dominá-lo.

— Kássia Borges Karajá, Curadora-Adjuntos de arte indígena, 2022



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