A escultura de Rubens Gerchman, Ar—cartilha do superlativofoi feita durante o período mais duro da ditadura brasileira. Sua datação é a de 1967-1972, ou seja, tem início durante a presidência de Artur da Costa e Silva (1967-69), e se estende até a de Emilio Garrastazu
Medici (1969-72), ambos generais do exército reformados. Naquele período, boa parte dos artistas brasileiros se opunha ao autoritarismo e à violência do Estado, e o trabalho de Gerchman deve ser entendido nesse
contexto. A obra foi exposta no MASP na mostra do artista, então com 32 anos, na galeria do segundo subsolo do museu, em 1974. Algumas esculturas em formato de palavras chamavam a atenção por sua escala humana (cada
letra com a altura de 174 cm). Num período de profunda asfixia das liberdades e direitos políticos do cidadãos, o artista concebera esculturas da série
cartilha do superlativoque funcionavam como emblemas para aquele momento: AR, em letras cheias pintadas de azul (do acervo do MASP) e em letras vazadas, e LUTE, em letras cheias pintadas de vermelho. A exposição de Gerchman foi inaugurada no sexto dia do mandato do presidente Ernesto Geisel (1974-79), outro general do exército reformado, que prometia dar início ao que
configuraria um longo período de reabertura ou transição para a democracia, que afinal perversamente duraria mais do que o próprio período mais duro do regime. No dia da abertura da mostra, em 20.3.1974, a capa do
jornal Folha de S. Paulo estampava a manchete: “Ampliaremos o diálogo, diz Geisel”. De fato, Geisel assinaria quatro anos mais tarde, em 13.10.1978, a emenda constitucional que promulgava o fim do AI-5, o quinto e
mais duro dos atos institucionais do regime militar que caçara mandatos de parlamentares, intervira em estados e municípios, e suspendera garantias constitucionais que resultariam na institucionalização da tortura no
país.