Wesley Duke Lee começou sua carreira artística frequentando os cursos livres de desenho do MASP, em 1951. Ao longo dessa década, viajou continuamente como assistente do pintor Karl Plattner (1919-1986) e estudou design e artes gráficas por vários anos em Nova York. Neste período nos Estados Unidos, teve o primeiro contato com a nascente arte pop. De volta ao Brasil em 1960, criou o movimento “realismo mágico”, que buscava no retorno à figuração uma alternativa às tendências abstrato geométricas que dominavam a arte paulista naquela época. Foi professor de artistas como Carlos Fajardo, José Resende, Frederico Nasser e Geraldo de Barros (1923-1998), com os quais fundou o Grupo Rex (1966-67), um coletivo que, por meio de happenings, eventos espontâneos e performáticos, e de um jornal bastante humorado, reagia criticamente ao mercado de arte brasileira. Assim, o artista contribuiu para a inserção do pop no repertório artístico nacional. A obra do MASP, Através do espelho mágico (Pietro Maria Bardi) foi pintada muitos anos depois dessa época, mas mantém o traço e a profusão de cores característica da arte pop. É apenas uma das treze obras do artista na coleção, o que confirma o vínculo de décadas entre o artista e o diretor fundador do Museu, Pietro Maria Bardi (1900-1999).
— Equipe curatorial MASP, 2017
Por Leandro Muniz
O italiano Pietro Maria Bardi (1900-1999) foi jornalista, historiador, crítico, colecionador, galerista e o primeiro diretor do MASP, desde sua fundação, em 1947, até 1996. Em seu retrato, pintado por Wesley Duke Lee, ele é representado com as mãos entrelaçadas, a cabeça levemente inclinada e o olhar direto para o observador. Bardi era um incentivador e um interlocutor frequente do artista desde os anos 1960 e Duke Lee fez um curso de desenho na escola do MASP, em 1951, início de sua formação. De 1952 a 55, estudou publicidade na Parsons School, em Nova York, onde teve contato com os artistas surrealistas e dadaístas que moravam na cidade e com a nascente arte pop, forte influência em sua obra. Ao longo de sua produção, Duke Lee realizou diversos retratos a partir de fotografias, registrando os integrantes de seu círculo social. Através do espelho mágico (Pietro Maria Bardi) faz alusão ao romance homônimo de Lewis Carroll (1832-1898), que é a continuação do célebre livro Alice no país das maravilhas. Na obra de Duke Lee, os espelhos são um assunto recorrente, interessando ao artista as ideias de duplicação e distorção. No retrato de Bardi, há um contraste entre a forma esquemática como ele é representado e a liberdade cromática e gestual com as quais a pintura é construída. Na parte inferior, a gravata e as mãos são desenhadas apenas por seus contornos, como um esboço; já no rosto, há uma explosão de cores, sugerindo aspectos psíquicos e emocionais do retratado.
— Leandro Muniz, assistente curatorial, MASP, 2023