Autorretrato com vestido laranjaé um dos primeiros autorretratos pintados por Tarsila do Amaral, provavelmente feito em Paris. O tratamento formal da tela tem elementos do impressionismo, que influenciou a artista em seus anos iniciais, como vemos
na massa de tinta que se sobrepõe em variados tons no fundo da pintura — trabalhado com muitas pinceladas em amarelos, verdes, azuis e ocres. Tarsila combinou as cores de diferentes maneiras, na figura, na vestimenta
e no fundo; por isso, os tons parecem se misturar, sendo possível confundir pequenas áreas da figura com cores do fundo e vice-versa. Apesar do título, o vestido apresenta tonalidades que hoje aparecem como rosa, e
possui um decote em V com detalhes em azul, verde, laranja e ocre. Ele se assemelha a um robe, um vestuário aristocrático, assim como o penteado de coque alto — semelhante ao exibido pela mãe de Tarsila, em fotos, e
por outras mulheres de classe alta da época. Aparece aqui também o batom vermelho típico de seus autorretratos, porém em matizes mais atenuados, e os olhos sombreados. Comparando este autorretrato com aqueles
produzidos poucos anos depois, como
Autorretrato Ie Autorretrato (Manteau rouge), nota-se a mudança na forma como Tarsila se representou. Aqui, o vestido é mais singelo e a posição de lado, mais clássica, o que se contrapõe à figura altiva e de frente de Tarsila com seu manteau rouge. Isso se
relaciona às mudanças pelas quais ela passou nesse período: enquanto nos primeiros autorretratos as figuras são mais simples, ligadas ao período de aprendizagem de Tarsila e a sua vida no interior de São Paulo, nos
últimos ela se retrata como uma figura cosmopolita, já em um período maduro de sua pintura, marcado por uma linguagem plástica moderna.