Avenida Paulista foi comissionada à artista para ser exposta num cavalete de vidro em sua mostra no MASP. A obra é um ponto de inflexão no trabalho: o distanciamento social durante a pandemia reduziu as idas ao ateliê, e Milhazes intensificou o uso de croquis feitos à distância para executar processos na tela, introduzindo a caneta de tinta acrílica Molotow, que permitiu a criação de áreas de fino detalhamento. A composição multicolorida e intricada inclui elementos abstratos (círculos, quadrados, triângulos) e figurativos (um sol japonês, ondas do mar, flores e suas pétalas). Se alguns elementos sugerem uma paisagem à beira mar, distante da cidade, as listras paralelas em violeta escuro e cru evocam pinturas geométricas de Luís Sacilotto (1924-2003), expoente do concretismo paulistano. Assim, o índice paulista de Avenida Paulista surge tão processado pela artista, cujo trabalho é identificado com a exuberância carioca, com uma referência da história da arte local — o concretismo.
— Equipe curatorial MASP, 2021
Por Adriano Pedrosa
Beatriz Milhazes trabalha com um complexo repertório de imagens associadas a diversos motivos, origens e fontes: do modernismo ao barroco, da chamada arte popular à cultura pop, da moda à joalheria, da história da arte à natureza, da arquitetura à abstração, da geometria às formas livres. Suas composições são intrincadas, multi-coloridas e literalmente cheias de camadas — de cores, tintas e significados. ‘Avenida Paulista’ foi comissionada à artista para sua individual no MASP, em 2020-21. A obra, feita durante a pandemia de Covid-19, representa um ponto de inflexão no seu trabalho. O distanciamento social reduziu suas idas ao ateliê e Milhazes intensificou o uso de desenhos e de planos para executar processos na tela. Seus títulos frequentemente têm uma dimensão poética, sonora ou mundana, com nomes de locais, personagens, cores ou comidas, e pouca relação com a obra em si. Assim, é difícil identificar a ‘Avenida Paulista’ na pintura, que inclui um sol japonês, ondas do mar, flores e pétalas, e muitos elementos geométricos — quadrados, círculos, triângulos, elipses, ondas, listras. Se o sol, as ondas e a bola sugerem uma paisagem à beira-mar, distante do universo citadino paulistano, as listras em violeta escuro e cru evocam pinturas geométricas de Luís Sacilotto (1924-2003), expoente do concretismo paulistano. Desse modo, o índice paulistano de ‘Avenida Paulista’ emerge de modo processado pela artista carioca, que se considera uma artista geométrica, mas cujo trabalho é identificado com a exuberância do Rio de Janeiro, filtrando uma referência emblemática.
— Adriano Pedrosa, diretor artístico, MASP, 2023