MASP

Mestre Didi

Cetro do panteão da terra, Década de 1980

  • Autor:
    Mestre Didi
  • Dados biográficos:
    Salvador, Brasil, 1917-2013
  • Título:
    Cetro do panteão da terra
  • Data da obra:
    Década de 1980
  • Técnica:
    Couro pintado, búzios e miçangas sobre nervura de palmeira
  • Dimensões:
    73 x 18,5 x 11,5 cm
  • Aquisição:
    Doação Ana Dale, Carlos Dale Júnior, Antonio Almeida, Thais Darzé e Paulo Darzé, no contexto da exposição Histórias Afro-atlânticas, 2018
  • Designação:
    Escultura
  • Número de inventário:
    MASP.10758
  • Créditos da fotografia:
    MASP

TEXTOS



Deoscóredes Maximiliano dos Santos (1917-2013), chamado de Mestre Didi, foi um escultor e escritor baiano conhecido por conjugar as funções sociais de sacerdote religioso e artista. Filho de Maria Bibiana do Espírito Santo, a Mãe Senhora, terceira Iyalorixá do Ilê Axé Opo Afonjá, importante terreiro de candomblé fundado em 1910, ele mesmo recebeu o título de Alapini, o mais alto cargo da hierarquia sacerdotal no culto aos ancestrais Egun. Produziu uma obra de fôlego excepcional, reconhecidamente brasileira, embora de expressiva matriz africana. Suas esculturas não opunham o tradicional e o moderno, antes revelavam a contemporaneidade das artes vinculadas às religiosidades afro-brasileiras. Seus trabalhos remetem às mitologias dos orixás, às insígnias de poder e às ferramentas das divindades africanas do panteão da terra (Nanã e seus filhos Obaluaiê ou Omolu, Oxumaré e Ossain) e são formulados com materiais naturais como sementes, contas, couro, folhas, palhas e búzios, esse último também chamado cauris e que na África foram utilizados como moeda de troca. Sua obra suscitou debate: aos que defendiam os valores artísticos eurocêntricos, suas esculturas não eram obras de arte. Para aqueles iniciados em religiões afro-brasileiras, a produção do artista rompia com o segredo do universo sagrado, dessacralizando e transformando em arte um objeto de função ritual. Para outros, sua arte valorizava a imensa produção que circulava internamente aos terreiros, tornando pública uma estética particular e fomentando uma arte própria. Com efeito, a fatura cuidadosa, a singularidade de suas construções, e o vigor estético de sua visualidade alicerçada nos candomblés afirmam, cada vez mais, a importância de Mestre Didi para a história da arte — no Brasil, na África e no mundo.

— Equipe curatorial MASP, 2020

Fonte: Instagram @masp 24.08.2020




Por Equipe curatorial MASP
A produção escultórica de Mestre Didi apresenta referenciais de conhecimento e visualidade que fazem parte da herança cultural de tradição iorubá no Brasil. Ao receber o cargo de assobá, ainda na infância, e tornar-se responsável por confeccionar e sacralizar os emblemas rituais do culto ao orixá Obaluaiyê no candomblé, o artista adquiriu vasta experiência na criação de formas através da manipulação de materiais como palha da Costa, nervura de Palmeira, couro, miçangas e búzios. Na cosmogonia iorubá, o panteão da terra é um dos mais importantes, pois a terra é a morada dos ancestrais. O elemento terreno está associado às divindades que regulam os ciclos da vida e da morte, o começo, o fim e o recomeço de todas as coisas. Em Cetro do panteão da terra, do acervo do MASP, podemos observar alguns dos principais aspectos formais e temáticos encontrados no conjunto da obra de Mestre Didi. A escultura é confeccionada a partir da torção das fibras vegetais e adição de materiais diversos por meio da costura. A estrutura é erguida de modo equilibrado sobre o solo e se expande a partir do eixo vertical principal. Formas secundárias são conectadas como uma espécie de circuito, que se orienta a partir da base central, percorre a totalidade da escultura e retorna ao mesmo ponto de origem, o solo. Outra característica que chama a atenção é a presença de uma espécie de forma-matriz: a partir dela é possível dar origem aos emblemas dos outros orixás do mesmo panteão recorrentes em sua obra, como o xaxará, a serpente, a palma e o ibiri, fazendo referência aos orixás Omulu/Obaluaiyê, Oxumarê e Nanã Buruku, entre outros ancestrais.

— Equipe curatorial MASP, 2021

Fonte: Instagram @masp 28.08.2021



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