Tanto Móbile quanto as quatro telas conservadas no museu são doações do artista, realizadas por ocasião das exposições que lhe consagram em 1948, no Ministério da Cultura do Rio de Janeiro e no Masp. Trata-se de um momento em que o artista retoma o ritmo intenso de suas viagens e expõe novamente fora dos Estados Unidos, realizando para tanto móbiles de dimensões menores e muito similares ao do Masp (Dancing Stars, National Galerie, Berlim, c.1945; Blue Feather, c.1948, coleção particular). Em 1946, Calder retornava a Paris após dez anos de ausência, a fim de preparar sua exposição na Galerie Louis Carré. Prefaciando seu catálogo, Sartre, então retratado pelo artista de forma muito engraçada, deixa um notável registro desses móbiles de câmara, vistos por momentos à luz de vela, em decorrência dos racionamentos de energia do imediato pós-guerra. Sua reflexão (a mim gentilmente referida há alguns anos por Simonetta Luz Affonso) projeta uma luz precisa sobre o pequeno Móbile do Masp, talvez do mesmo ano: “um móbile: uma pequena festa local, um objeto definido por seu movimento e que não existe fora dele, uma flor que fenece ao cessar seu mover-se, um jogo puro de movimento como há puros jogos de luz”.
Os quatro óleos pintados por Calder em 1945 e em 1946, sem que se os possa evidentemente submeter a um encadeamento lógico, sugerem uma seqüência em quatro tempos, ao longo da qual se passa de um espaço em profundidade e de uma visão relativamente recuada, permitindo a ilusão de formas antropomórficas saltitantes ao lado de um “peixe” (Inv. 584), a um espaço de uma planeidade mais e mais acusada, na qual se dispõem em primeiríssimo plano formas amebóides como que mil vezes magnificadas e aproximadas pela lente de um microscópio. É de se observar que o ciclo em questão é bastante raro na obra madura de Calder, pois com exceção justamente dos anos 1945-1949, quando o artista realiza algumas incursões na pintura a óleo, é sobretudo o guache a técnica que goza de sua estável predileção.
— Autoria desconhecida, 1998