Junto com Asger Jorn (1914-1973), Pierre Alechinsky, Constant (Constant Nieuwenhuys, 1920-2005), Christian Dotremont (1922-1979), entre outros, Karel Appel foi um dos artistas que integrou o grupo Cobra, acrônimo
formado pelos nomes das cidades de onde vêm seus fundadores (Copenhague, Bruxelas e Amsterdã). Ativos entre 1948 e 1951, esses artistas e poetas pleiteavam estabelecer uma rede internacional que compartilhava o
objetivo de realizar experimentos colaborativos e buscar alternativas aos cânones estilísticos da história da arte ocidental. Para tal, se inspiraram na arte rupestre, no frescor e na espontaneidade dos desenhos de
crianças ou ainda de pacientes de hospitais psiquiátricos. Os trabalhos de Paul Klee (1879-1940), Joan Miró (1893-1983) ou ainda Jean Dubuffet (1901-1985), por trazer respostas a inquietações similares, também se
tornaram importantes referências. Entre os artistas do grupo, o trabalho de Karel Appel se destaca pela expressividade de sua pincelada, como se a tinta tivesse sido aplicada com os dedos ou diretamente da bisnaga.
Se é possível discernir figuras nas suas telas, como é o caso de
Composição-garçom, se trata mais de silhuetas sem contornos nítidos que emergem como mancha de cor pura e vibrante. Segundo o texto do diretor fundador do MASP Pietro Maria Bardi (1900-1999) sobre a exposição monográfica do artista
realizada no museu em 1981, o trabalho do artista se caracterizaria pela “impetuosidade imediata com que transfere a violência das cores no espaço, sem meditar e prever o resultado”.
Por Luciano Migliaccio
Na apresentação da exposição Appel realizada no Masp em maio de 1981, Pietro M. Bardi escreveu: “Comprei a pintura de Appel na Galeria Lefèvre em Londres, há uns vinte anos, quando sua fama não era a de hoje. Sendo
holandês, coloquei o quadro ao lado de um dos nossos Van Gogh, constatando uma natural e viva afinidade. A ocasião também serviu para informar aos visitantes da existência do grupo Cobra, composto por Appel,
Corneille, Jorn e Alechinsky. Difícil situar Appel numa tendência. Ele é personalidade simples, de excepcional carga dramática, distinto pela impetuosidade imediata com que transfere a violência das cores no espaço,
sem meditar e prever o resultado, espontâneo no impulso, no visionar apocalíptico e passagens no infernal. Associa-se ao caráter de Van Gogh, Ensor, Munch, aos manipuladores de signos e formas das cavernas”. Ao lado
dessa leitura, pode-se ressaltar o interesse de Appel pela improvisação, realizada na música jazz pelos mestres do
be-bope do cooldos anos 50 e 60 como Dizzy Gillespie, Charlie Mingus, Miles Davis, Sarah Vaughan e Count Basie.