MASP

Jean-Auguste Dominique Ingres

Cristo abençoador, 1834

  • Autor:
    Jean-Auguste Dominique Ingres
  • Dados biográficos:
    Montauban, França, 1780-Paris, França ,1867
  • Título:
    Cristo abençoador
  • Data da obra:
    1834
  • Técnica:
    Óleo sobre tela
  • Dimensões:
    80 x 66,5 x 2 cm
  • Aquisição:
    Compra, 1958
  • Designação:
    Pintura
  • Número de inventário:
    MASP.00060
  • Créditos da fotografia:
    João Musa

TEXTOS



Ingres foi aluno de Jacques-Louis David (1748-1825), figura central do neoclassicismo francês. Ainda jovem, afirmou-se recebendo importantes encomendas oficiais do regime napoleônico. Em 1806, viajou a Roma, onde permaneceu até 1820, quando se mudou para Florença. Na Itália, tornou-se um dos retratistas mais requisitados. Voltando a Paris em 1824, consagrou‑se líder da escola clássica francesa. Eleito membro da academia, abriu um ateliê muito concorrido e, durante a vida, foi considerado pelo meio oficial o maior artista francês. Seus inúmeros desenhos mostram como Ingres possuía uma enorme erudição que se estendia da pintura dos vasos gregos à arte maneirista. Soube reunir todas essas referências em suas composições por meio do desenho, pensado de forma puramente decorativa, ou seja, em função do equilíbrio formal e sem preocupações naturalistas. Duas das obras de Ingres do MASP, Cristo abençoador (1834) e A Virgem do véu azul (1827), representam temas religiosos. Historicamente, os gestos dessas figuras remontam a narrativas bíblicas específicas, mas também têm a função de orientar os fiéis à devoção. As mãos de Cristo, abertas e voltadas para cima, eram assim retratadas nos primórdios do cristianismo; era como ele ensinava a rezar o pai-nosso. Já as mãos de Maria, juntas, seguem a tradição medieval e manifestam humildade e submissão.

— Equipe curatorial MASP, 2015




Por Núcleo de Conservação do MASP
O Cristo abençoador (1834) e A Virgem do véu azul(1827), ambas do acervo do MASP, são duas pinturas a óleo sobre tela, esticadas em chassis com cunhas, realizadas pelo pintor francês Jean-Auguste Dominique Ingres . Em 2019, foram feitas análises científicas nas duas pinturas pelo Núcleo de Conservação do museu e pelas equipes do Instituto de Física da USP (IFUSP) e da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Os exames permitiram elucidar detalhes sobre a técnica pictórica e os materiais utilizados pelo artista, bem como sobre as intervenções de restauro antigas e o estado de conservação de ambas as obras. A reflectografia no infravermelho (realizada pela equipe do IFUSP) é uma técnica na qual a radiação penetra as camadas mais externas da obra, como a pintura e o verniz, até chegar à de preparação, trazendo informações tais quais desenhos subjacentes e outros elementos invisíveis ao olho nu. Era comum que os artistas realizassem desenhos preparatórios antes de aplicar as camadas de pintura; essa primeira intenção (ou etapa criativa) poderia ser modificada ao longo do processo. As obras de Ingres do MASP apresentam desenhos preparatórios bastante interessantes, já que, em ambas, o pintor parece ter modificado a composição original durante a realização: observa-se, por exemplo, que o artista mudou o braço esquerdo da Virgem para colocar a mão em posição de prece. No caso do Cristo, observamos um desenho bem evidente nas mãos e na túnica, com pequenos traços marcados. Também é possível inferir que o artista teria pensado, num primeiro momento, em pintar o Cristo sem a túnica devido a presença do desenho bem discernível do torso nu, que foi depois oculto pela vestimenta.

— Núcleo de Conservação do MASP, 2021





Por Luciano Migliaccio
A obra Cristo Abençoadortrata-se do pendantda Virgem do Véu Azul,encomendada igualmente pelo marquês de Pastoret. A cabeça é muito semelhante a um estudo preparatório da figura do Redentor na Entrega das Chaves a São Pedro(Montauban, Musée Ingres). O rosto apresenta características inspiradas nas obras tardias de Rafael, como na Transfiguraçãoda Pinacoteca Vaticana, interpretado porém por meio do modelo de Nicolas Poussin da série Sete Sacramentos. As mãos levantadas e de palmas abertas constituem a pose tradicional do Cristo Pantocrator (Edelstein ed. 1984, p. 132). De fato, o Cristo levanta as mãos num gesto semelhante ao daquele que ora na iconografia clássica e paleocristã, em oposição à pose da Virgem, representada no pendant, rezando de mãos juntas. O tema comum parece ser o da oração: a Virgem, que junta as mãos no gesto de submissão medieval, evoca o Magnificatproposto como modelo de devoção feminino, e o Cristo que abre os braços refere-se à oração que ele próprio quis ensinar, o Pater Noster.Seria interessante aprofundar as relações entre Pastoret, o próprio Ingres e o movimento católico francês da época, inspirado no exemplo de Chateaubriand. As duas imagens isoladas num fundo abstrato aproximam-se dos ícones bizantinos com um traço de arcaísmo, talvez inspirados nos nazarenos e nos puristas que Ingres conheceu na Itália. Esse lado da produção do mestre não vai ficar sem ecos na pintura religiosa francesa e italiana das décadas posteriores, em Ary Scheffer, em Consonni ou em Podesti.

— Luciano Migliaccio, 1998


Fonte: Luiz Marques (org.), Catálogo do Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand, São Paulo: MASP, 1998. (reedição, 2008).



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